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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Negro Profundo ( 14 )

Aqueles dois anos, apesar das rotinas habituais, foram desassossegados. Até perfazer desasseis anos continuou a estudar na companhia de Matilde e dos meninos da Herdade nos tempos mais frios do ano.
A pressão revelou uma Samara mais aplicada, com mais vontade de ser dona do seu medo. Apesar de todas as dificuldades era a melhor aluna. Os professores surpreendiam-se com tamanho empenho e trabalho.
Dedicando-se por inteiro à aprendizagem, encontrava conforto nas conversas e amizade dos companheiros de brincadeiras da Herdade das Mimosas, onde se sentia compreendida.
Gonçalo visitava-a semanalmente, possibilitando  um conhecimento maior do que pretendia ser seu marido.
Gostava dele, mas um fosso repleto de maneiras diferentes, opostas até, de encarar a vida, aumentava cada vez mais.
A identificação com as vidas e projetos de Matide e dos três irmãos Tavares crescia tanto quanto a sua maturidade. Integrava a família de Matilde e as vidas dos adultos das Mimosas eram-lhe referências.
Imaginava-se de poiso certo, vivendo em casa sólida, com emprego e depois, talvez, casando.
O noivado alargado tinha-lhe desperto o interesse pelo género masculino duma forma nova. Dava por si a discutir relações, sentimentos, com João, o mais ponderado e sensato. Contudo, era em Luís, o sonhador do grupo, que encontrava maior calmaria. Entendiam-se muito bem. Quase não necessitavam de articular palavras para se adivinharem.
Os olhos brilhantes de Luís transmitiam-lhe segurança, uma paz nova.
Inconscientemente começou a fazer comparações e, com o decorrer do tempo, o casamento com Gonçalo parecia-lhe uma realidade da qual não queria ser membro.
A liberdade chamava-a e esta não se encontrava no cumprimento de tradições e promessas impostas.
(continua)

5 comentários:

"Escrever é uma maneira de falar sem ser interrompido."
Jules Renard

"O escritor original não é aquele que não imita ninguém , mas sim aquele que ninguém pode imitar."
François Chateaubriand

"Escrever é ter a companhia do outro de nós que escreve."
Vergílio Ferreira

"Escrever é também não falar. É calar-se. É gritar sem ruído."
Marguerite Duras

"Os homens gostam das mulheres que escrevem. Pensam-no, mas não o dizem. Um escritor é um país desconhecido."
Marguerite Duras

"Escrever é como fazer amor. Não te preocupes com o orgasmo, preocupa-te com o processo."
Isabel Allende