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sábado, 8 de junho de 2013

Era uma vez . . . Uma viagem .


Embarcou  naquele navio que lhe estendia escadarias. Podia adivinhar a suavidade da carpete vermelha sob a sola fina das sandálias vermelhas.
A grandeza da embarcação atordoava-a. Com a maresia a encher-lhe os pulmões inundava-se-lhe o ser.
O luxo da receção aliava-se ao deslumbrante azul marinho das águas calmas do Oceano.
Para emoldurar o instante perfeito os mornos raios solares acariciavam-lhe o corpo. Um calor transmitido à alma.
A pequena bagagem de mão foi prontamente solicitada. Ali teria tratamento de princesa.

A Viagem iniciara-se algum tempo atrás.
Num momento áspero da sua existência, atrevera-se a dar tudo e tudo lhe tinham roubado. Inclusivé o seu bem mais precioso: a sua Essência.
Fora usada, sem escrúpulos, de forma improvisada, nos seus mais sinceros sentires.
Conseguira reunir forças e decidir perdoar-se. Era-lhe infinitivamente penosa aquela dor, a da Culpa. 
Sim!
A idade já não lhe permitia desvarios adolescentes.
A inteligência avisara-a.
Porém, os sentidos e o coração atraiçoaram-na. Deveria ter sido racional, ignorar os gemidos melosos do Querer.
Sem borracha possível para apagar situações passadas, optara por si. 
Mudaria . . . sentimentos, paisagens e virar-se-ia do avesso, se necessário fosse.
Trocou de casa. Em escassas semanas morava a escassos dez minutos do emprego.
Procurou novos amigos e decidiu-se por uma jornada onde se pretendia achar, perdendo-se.

Ei-la aqui, no programa planeado. com a modificação da paisagem externa completa.
Os dias decorriam prazenteiros. Visitas turísticas, horas de ócio, conversas animadas com pessoas desconhecidas.
Sorria ao beberricar o cocktail na beira da piscina.
O passado parecia-lhe sonho difuso. Algo que alguém lhe teria contado, não que fizesse parte da sua história de vida.

Com o término da trajeto à vista, a atmosfera nublara-se. O Sol deixara o seu brilho cristalino dando lugar a brisa húmida, de neblina feita.
Atribuiu a alteração climatérica à aproximação outonal. 
O mês de demanda acomodada no balancear suave das ondas tinham-lhe entorpecido a mente e os pensamentos por arrasto das marés cíclicas.
De chave pronta, a casa aproximava-se.
As passadas decididos e firmes tornaram-se pesadas.
Julgara que a ausência lhe retirara memórias dolorosas adoçando-lhe o presente.
Ao entrar em casa o ar fechado fê-la recuar no tempo.

Uma viagem inesperada e dispensável catapultou-a para o passado.
Deixou-se cair no macio tapete de entrada que lhe lembrava a alcatifa escarlate de outra expedição, com outros propósitos.
As sandálias pretas soltaram-se-lhe dos pés. A bagagem, testemunha fiel da travessia falhada.
De nada lhe valera a Viagem sonhada , planeada.
Sentimentos antigos voltaram. Feridas abertas sangrando na mágoa do desamor inultrapassado.
Imóvel, permitiu que o salgado do mar fosse substituido pelas lágrimas que corriam em desalinho. Cansadas da prisão, da contenção a que haviam sido obrigadas.

Desfolhar a flor do seu amor impossível até ficar sem pétalas, seria o único caminho . . . eis a inusitada Viagem que a faria esguer-se . . .



7 comentários:

  1. Lindo conto mas parece, ela apenas levou os problemas junto na viagem. Não os resolveu. Na volta, prontos pra atacar novamente... beijos,lindo domingo,chica

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  2. É isso... nao importa aonde formos... os sentimentos sempre estarao conosco...

    Beijos...

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  3. Amiga, vc arrasa com seus textos, criatividade vc tem muita, adoro ler o que escreve.
    Vim deixar tb um beijo pra você e dizer que voltei a bloggar meio lenta ficarei, mas não sumo mais.Fica com Deus

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  4. Uma viagem atormentada...sonhos por viver!

    Belíssimo texto...melancólico!

    Beijinhos.

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