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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

quero (meu) mar . . .



Por entre céus e mares
perco o pé de terras firmes.

Sou novelo
do fio do tempo,
emaranhada
no turbilhão 
das águas do  meu pensar.

Sou assim,
onda sem chão,
gota soprada
em ventos de 'outroras'
por onde me alheio.

Em oceanos desassossegados,
sem costa à vista,
dissolvo-me 
na tempestade molhada 
do mar alto,
onde me deixo afogar
na esperança de dar à costa,
noutros continentes,
em hemisférios por desvendar.

Por mares a que chamo meus,
nada mais sou,
mulher inquieta,
perseguida por adamastores
de pulsos adornados
com relógios
que me enlouquecem.

Pois, se entre estes
céus e mares me perco,
neste abandono de água, 
que acusação me tem o tempo
ao não desviar o seu olhar 
do nevoeiro por onde me habito?

Oh! Tempo!
Não te quero!

Solta-me das tuas correntes
e deixa-me ser no meu mar,
onde sonho a areia
da minha pegada,
o desaguar em praia 
banhada da ternura
de quem tu sabes
para morrer em maré cheia
dos beijos dele.

Pérola



quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Trago !



Trago nas mãos
o teu rasto colorido,
o vislumbre de ti 
em pinturas por começar.

Cobiço a tua cor
em matizes coroadas
do tom teu.

És-me arco-íris,
céu e tudo o mais
por onde o horizonte
se tinge no teu nome,
e eu me deslumbro
em nuances 
que insisto em agarrar.

Trago por entre dedos,
a pigmentação do teu olhar,
a textura das tuas palavras,
a vontade sem cinzentos,
o desejo de ti !

Pérola



terça-feira, 25 de agosto de 2015

beijo


O BEIJO (Paul Éluard)

"Ainda toda quente da roupa tirada
Fechas os olhos e moves-te
Como se move um canto que nasce
Vagamente mas em toda a parte

Perfumada e saborosa
Ultrapassas sem te perder
As fronteiras do teu corpo

Passaste por cima do tempo
Eis-te uma nova mulher
Revelada até ao infinito."


Quero esse beijo
sem tempo,
perdido,
por entre folhas do calendário,
de relógios parados.

Renasço na ânsia
da desordem
de teus lábios,
de tua boca,
onde o caos se organiza
e o abismo 
me tenta.

Quero esse beijo
multiplicado
vezes sem conta,
somado
a tantos outros,
em eternas intemporalidades.

Quero esse beijo
onde me despedaço
e remendo no fio 
da tua saliva.

Pérola



sábado, 22 de agosto de 2015

flor e dependurada



Sou flor dependurada,
perdi caule, raíz
até folhagem.

Resto-me na cor
da minha veste,
na alegria do meu perfume.

Sou flor amadurecida,
plena de cor
como só eu,
flor dependurada.

Nesse balanço da corda
assobio ao vento,
sussurro-lhe minhas vontades
como nada me tolhesse.

Ah! 
Vã Ilusão!

Sou mera flor dependurada
presa nas pinças da vida,
imaginando o quanto sou livre,
quando,
em verdade,
sou só eu,
cercada de infinidades
limitadas por fragilidades
de flor.


sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Por entre silêncios



Deixa essa criança 
tomar seu tempo,
formar-se tomando peso,
e quando chegar sua hora . . .
pois que nasça.

Deixa esse parto acontecer,
bem de mansinho,
gravíssimo,
como quem desperta 
de ventre de ternura.

Deixa que as palavras jorrem,
a música ganhe identidade,
em ritmo prestíssimo,
como explosão de tudo.

Deixa-me ser essa lactante,
oferecer-te da minha música
nascida do silêncio 
de te querer.



Para os mais Curiosos: 
http://www.prof2000.pt/users/ed_musical/EDUCA%C3%87%C3%83O%20MUSICAL/5.%C2%BAANO/NIVEL_02/RITMO/5-Principal1periodonivel02-RITMO.htm


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

guerreiro



Trazes o gume da lâmina,
o sangue que não estanca 
nesses rios 
que atravessam teu corpo.

Tens no olhar o negrume
de gritos
e silêncios sem vida.

Persegues a cruzada, 
despida de ti,
marcada em tua alma
de guerreiro.

Estendes-me a tua mão
que me falam de outro ser,
calado em teu ventre,
em súplicas de amor.




sexta-feira, 7 de agosto de 2015

coisas do mar



Trazes coisas do mar,
palavras perfumadas na maresia
em voo de gaivota.

Tens nas mãos o mundo
que me entontece,
deixas-me à deriva
ao sabor do teu tempo,
da tua vontade,
moderadamente.

Já te disse
o quanto anseio a loucura?

Junta a essas coisas do mar
a imprudência sem limites,
a anarquia de outras terras,
outros cheiros,
desejos inconfessáveis.

Vem !
Carrega-te em pleno
e oferta-te (só) a mim.

Leva-me contigo
por entre essas coisas de mar . . .



quarta-feira, 5 de agosto de 2015

* eu *


Escorrega-me o feminino
por entre camélias brancas,
laços e sedas.

Gosto-me de ser mulher,
pintalgada de rosa,
em delicadezas subtis
encimadas por tiara de princesa.

Pingo-me na ponta da pena,
esborratando páginas nuas,
ora lágrima ora riso.

Basto-me na meada 
de me acontecer Mulher !


domingo, 2 de agosto de 2015

teus beijos




Gosto dos teus beijos crus
como cereja madura.

Doces como polpa sumarenta,
vermelhos como teus lábios
no descanso após
visitarem os meus.

Gosto dos teus beijos nus
como fruta de época.

Marotos na desfaçatez 
da colheita,
carentes como perdição
em vício do pior que há.

Por eles me perco,
por eles me encontro.
Teus beijos, meu amor,
são delícias com que sonho.