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segunda-feira, 30 de maio de 2016

Dependurada



Autorizei-me a desocupar o corpo,
de pele macia e sangue quente,
para me dependurar ali.

Ausentei-me de lutas,
guerras e ilusões
para me quedar por aqui.

Permiti-me outras escolhas,
o ar repleto de outros sensos,
a consciência de me ser 
como pérola,
criada em incómodos alheios,
crescida em marés de direção trocada.

Sei-me concerto sem clave,
intuição sem bravura,
arbitro em jogo próprio,
reflexo de espelho por inventar
como se não me bastasse.

Acho-me no cabide,
dependurada em madeira viva
como se a vida me esperasse
em ternos convites
de juras e promessas.

Larguei-me por agora,
por entre suspiros já cansados.

Engole-me a desordem,
a variedade confusa
da inconstância de me ser,
limitações que não me servem,
preferências por crivar.

Dilemo-me na variação da opção,
na fronteira do que posso
ou sou . . .

domingo, 29 de maio de 2016

Beach, please !



Soa a cantilena esganiçada,
pois soa.

É vontade de mar,
pois é.

Dá vontade de mudar de país,
pois dá.

Dobram os sinos pela primavera perdida,
pois dobram.

Empresto paciência a mim,
pois empresto.

Que hei de fazer?

Sou (confessa) amante de verão,
sol,
areia,
calor,
óbvias vontades de clima temperado.

E depois?

A mudança é a única permanência
e a ela terei de me render.

Enfim,
resta-me pedir:
" Beach, please !"



sábado, 28 de maio de 2016

No meu vale ... há uma casa



Há uma casa
plantada no meu vale
manso e de águas correntes.

Essa casa fez morada
em meu chão,
bebeu do meu rio,
plantando-se no meu vale
como peregrino
ou hóspede sem prazo.

Há uma casa engraçada 
por aqui,
com jeito de letra, enfim,
e meu vale soltou-se de mim.



sexta-feira, 27 de maio de 2016

Só por Hoje



Só por hoje,
deixo a tinta secar
em palavras escritas por ti,
silêncios tatuados na minha pele,
desejos e vontades desenhados na ponta  da tua pena.

Só por hoje,
permito-te a ousadia de me penetrares
em íntimos ocultos,
confidências onde te sou página em branco.

Só por hoje,
abandono-me em tuas mãos,
ofereço-te o corpo virgem,
por onde te podes aventurar
e escrever o momento 
onde somos sol e lua,
terra e mar
em Todo só nosso.

Só por hoje,
quero-te como guião do meu filme,
argumento a estrear,
em falas, palavras e takes
que me viram do avesso,
marcada por ti.

Só por hoje,
desliza-te em mim,
como quiseres,
pois dei férias às amarras,
e soltei o atrevimento nu 
de me oferecer-te.


terça-feira, 17 de maio de 2016

excesso



Quero estancar este desvario,
o fluxo de rio sem foz,
esta corrente de pensamentos sem eco.

Quero desaguar este querer,
a chuva de palavras sem chão,
este despropósito sem causa.

Quero gritar este sentir,
o fragmento inteiro sem voz,
esta mania de me ser
...
em excessos que me sobejam,
o desgoverno sem lei,
esta demasia só minha.



domingo, 1 de maio de 2016

no beijo


"A vida é curta demais para ser pequena"

Deixa tempestades lá fora,
com os raios, trovões
e seus amigos sombrios.

Que importa a chuva
se dentro de ti raia o esperançoso sol
no beijo demorado
de improvável encontro?

Despovoa essa terra
de incertezas e frio,
procura outras,
amenas e confiantes.

Oferece-te ao calor rubro
desses lábios 
em desespero de ti.

Ilumina-te na carícia
desse toque 
que te tomará as entranhas
e mostrará quem és.

 Há um outro mundo
à tua espera.
Basta que te atrevas
no beijo.