Autorizei-me a desocupar o corpo,
de pele macia e sangue quente,
para me dependurar ali.
Ausentei-me de lutas,
guerras e ilusões
para me quedar por aqui.
Permiti-me outras escolhas,
o ar repleto de outros sensos,
a consciência de me ser
como pérola,
criada em incómodos alheios,
crescida em marés de direção trocada.
Sei-me concerto sem clave,
intuição sem bravura,
arbitro em jogo próprio,
reflexo de espelho por inventar
como se não me bastasse.
Acho-me no cabide,
dependurada em madeira viva
como se a vida me esperasse
em ternos convites
de juras e promessas.
Larguei-me por agora,
por entre suspiros já cansados.
Engole-me a desordem,
a variedade confusa
da inconstância de me ser,
limitações que não me servem,
preferências por crivar.
Dilemo-me na variação da opção,
na fronteira do que posso
ou sou . . .