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domingo, 31 de agosto de 2014

Ter-se


Que tenho eu?
Nada é meu.

Tudo é mera ilusão,
quimera da vida
no empréstimo
do sopro vital,
ser-se na validade do relógio.

Despe-se o calendário
em meses fora moda,
mudam-se pensares
ao sabor de outras marés,
em carrossel que anda,
gira no mesmo local.

Sucedem-se pessoas,
novidades oferecidas
com vale aprazado
e eu acredito:
É meu.

Ingénua suposição,
espectro de sonhos acalentados
no que apreendi,
do que me contam

Urge acordar,
despertar,
soltar fantasmas de posse
que me tomam
para que despida do 'ter'
possa ser eu,
talvez.

Não sei,
nunca o descobri,
sou, apenas, mais uma pétala
de flor deitada ao vento.

Que tenho eu?
Um punhado de nada,
uma mão cheia de tudo,
quem sabe?

Mergulhada em desassossego,
só quero ter-me . . .



sábado, 30 de agosto de 2014

Da homosexualidade, das diferenças, dos opostos . . . só por acaso.




Ainda ontem, pensava na homosexualidade em virtude dumas imagens em que tropecei.
E logo ponderei uma partilha.
Foram vários os pensamentos que me assolaram e decidi tentar pôr por escrito uma realidade tão polémica.
Devo frisar que, no meu dia-a-dia, sou alheada destas coisas das diferenças como orientações sexuais, raças, religiões.
Tenho as minhas (fracas) opiniões, mas respeito tudo e mais alguma coisa desde que não interfira com a minha individualidade (e integridade) ou dos outros.


Posto isto, comecei por procurar definição:
Reza assim a definição da popular enciclopédia Wikipédia:

"Homossexualidade, também chamada de homossexualismo (do grego antigo ὁμός (homos), igual + latim sexus = sexo), refere-se à característica ou qualidade de um ser (humano ou não) que sente atração física, estética e/ou emocional por outro ser do mesmo sexo ou género.

A homossexualidade é uma das quatro principais categorias de orientação sexual, juntamente com a bisexualidade, a heterossexualidade e a assexualidade, além de também ser registada em cerca de 5.000 espécies animais."

Já chega de 'ciência'.


Vivemos num mundo onde os opostos são constante: há o quente e o frio, o alto e o baixo, o amor e o ódio, o escuro e a luz . . . e por aí fora. 
Claro que esta diferença, ou oposição é sempre relativa (em relação a), não absoluta. Algo pode ser sempre mais frio, mais amoroso, etc.
Tudo depende da unidade de medida usada, do sujeito que observa ou julga.

Afinal, é a tal subjectividade onde sempre caio.

Agora, a questão: serão o homem e a mulher passíveis de se integrar nesta dicotomia?
Serão opostos?
Penso que a diferença ninguém poderá negar.

Nisto tudo não residirá a complementaridade pela oposição?

E a existir a complementaridade, onde fica a necessidade de afeto romântico, sexual, emocional por pessoa ou animal do mesmo sexo?
Pois, este não é campo puramente humano, há outras espécies que o praticam.


Claro que o assunto é complexo e nem tenho a pretensão de o estudar.

Cresci a sentir-me atraída pelo género oposto. Creio que o mesmo se passará nas pessoas com todas as orientações sexuais: não se explicam por muito que se estudem.

A História mostra que a cultura pode influenciar positiva ou negativamente, mas a realidade é que sempre existiu.



Já divaguei.
Cheguei a parte nenhuma.
Em nada contribuí para a evolução pessoal ou humana.

Sou assim, dada a pensamentos desfiados, soltos, sem nexo, que conduzem, por sua vez, a outros pensares.
E . . . assim vivo, enredada nas diferenças onde me sinto meio perdida e me sou.

Valem-me os vossos comentários inteligentes, vestidos de outras realidades que me abrem horizontes.






quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Como bagos de romã . . . entre nós !



Entre nós 
o fruto não esperou pela semente,
foi grainha já florida.

Aconteceu como trovão
após raio inesperado,
luz intempestiva
sobre nudez nossa.

De repente
ou de mansinho
já nos sabíamos como bagos de romã,
maduros no paladar,
sumarentos ao provar.

Entre nós 
o grão não pediu grandezas,
foi diminuto em aparências.

Chamou-se de paixão,
vestiu-se de vermelho
e tingiu-nos os lábios
como bagos de romã.

E, 
ainda, 
entre nós,
 se morre de saudade
por esse tempo abrasado
onde se trincam bagos de romã,
como nós.



quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Sem pudor !


Ensaias um embaraço,
um decoro que te fica bem.

Sorris como se o pudor fosse o teu linguajar,
conversas abertas,
quando sabes que estamos sós.


Eu gosto dessa compostura,
do personagem que encarnas.

Só porque te sei cavalheiresco,
homem alinhado com minhas vontades,
amante despudorado,
como te quero.

E . . . é depois do adeus ao pudor
que os corpos se fundem,
entrelaçam por entre puros sussurros,
gemidos gulosos pedindo mais,
em movimentos adivinhados,
suados,
fazendo acontecer conceitos desembaraçados,
sem pudor.



terça-feira, 26 de agosto de 2014

Oh! Liberdade!



Há um caminho adiante,
um trilho novo
que quero percorrer, 
por onde te chamo, Liberdade.

O eco devolve-me a impaciência,
grades de que me nutro,
correntes só minhas.

Sou uma viajante
 reduzida a celas que teço
no almejo de ser livre.

Cárcere de mim própria
prossigo no alcance da luz,
desse caminho,
por onde te exorto, Liberdade.

Diz-me que é já ali,
pois as pernas fraquejam
em dúvidas com nome de prisão.

Olho-te em dúbias alucinações,
atrevimento que me sopra um impulso:
moras bem perto, 
quiçá,
dentro de mim!



sábado, 23 de agosto de 2014

A Culinária também passa por aqui . . .



O paladar, o olfacto, a audição têm memória. 
E de que tamanho . . .
Falar, pensar ou comer arroz doce leva-me de imediato para o colo da minha avó.
Era ela, a matriarca, que sempre o fazia e eu lutava com os meus irmãos para a raspadela do tacho.

E desta forma, a receita perdeu-se porque nunca tive necessidade, ou vontade de a aprender.
Já para não falar das broas escuras de erva doce bem como os 'fritos' do Natal'.

A semana passada ofereceram-me arroz doce.
Como por magia, recuei nos anos e senti aquele gostinho de avó.
Descarada, pedi logo a receita e ontem foi noite de meter mãos à obra.

Afinal, é tão fácil.
Arroz (300g), água para a cozedura, manteiga, sal, casca  de limão, paus de canela.
Depois de cozido é ir juntando leite (até 3l) quente e açucar (600g) amarelo para bolos.
Depois de muita mexidela, e provas que não engordam nada, basta juntar as gemas  bem batidas.

Não esquecer a canela por cima da cremosidade e Voilá.

Uma receita nunca é apenas um prato, um sabor.
É vida, família, uma parte de nós.

Somos constituidos, essencialmente, por sensações que nos abrem caminho a emoções,
ao nosso 'Eu' mais íntimo.

E, isso, é bom, muito bom!



P.S. Sendo o arroz doce uma antiguidade, basta ler a http://pt.wikipedia.org/wiki/Arroz-doce e ficar a saber que vem desde tempos de Buda.



quarta-feira, 20 de agosto de 2014

No desassossego do medo



Quando o medo vem,
se aproxima de mansinho,
misturando-se com o ar,
engulo-o de um trago.

Desassossego-me,
travo batalha com o tremor,
quase desapareço.

É então que escuto
o sussurro de outras vezes.

É tempo desperdiçado,
mau estar escusado.


Agarro nas minhas sobras,
peço licença à coragem,
e me ergo.

Doem-me os pavores enraízados,
a intraquilidade digerida
na ousadia de me ser,
com medos,
mas vou.

Sangrando,
tropeçando no vento,
vestindo máscara protetora,
não desisto,
no desassossego do medo.



segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Ainda Agora . . .



Ainda agora . . . me abrasavas,
queimando-me no teu lume,
fogo de corpo inteiro,
por onde me consumi,
renascendo em novo rastilho.

Ainda agora . . . era pavio,
chama na tua fogueira,
gemendo faiscas sob o teu ventre,
tornando-me cinza em teu suor,
sendo mulher por inteiro.

Ainda agora . . . me incendiavas,
provocador na nudez de pele,
no toque marcado, 
ferro fervente em ritmo alucinado,
sentindo a luxúria tomar conta de mim.

Ainda agora . . . a tua boca se colava à minha,
o teu beijo me vestia,
lambendo-me de calores enlouquecidos,
em maratonas de metas cortadas,
tingindo-me de cores  quentes.

Ainda agora . . . queria ser mais,
ser tudo,
ser tua na combustão de nós,
alma perdida nos teus vales,
cansada por teus cumes,
apagar as águas mansas da saudade.



domingo, 17 de agosto de 2014

Baralhamentos filosóficos ( baratuxos )




Uma laranja só é conhecida como laranja porque assim nos ensinaram, ou melhor, condicionaram.
A educação, este manancial de história que carregamos, desenha-nos como seres sociais.

Constata-se da individualidade única de cada um,
deste ser-se especial e inclonável,
relacionado com heranças genéticas e percursos exclusivos.

O caldeirão do que somos reflete-se para além das nossas fronteiras.
Sentimos, vimos, relaciona-mo-nos em consonância com o que somos (ou pensamos ser).
Os outros, o exterior é prolongamento nosso.

E com isto, resta-nos sempre a questão do absoluto, da sua existência.
Afinal, como são as coisas, de per si ?




sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Da Mudança


Qualquer transformação carrega em si mudanças, nas pessoas e no mundo em geral.



Seria extremamente prático podermos mudar de destino como quem muda de roupa como diz o poeta.
Cansativo para alguns, para outros nem tanto.

Porque isto de mudar ou querer mudar é tão subjetivo e pessoal quanto tudo o mais que se refere à humanidade.
Possuimos um determinado alcance nas nossas decisões, mas a maioria das coisas estão fora do nosso controle.

A verdade é que mudamos, seja por mote próprio ou ao abrigo de contigências várias ( e nem sempre do nosso agrado).



Dizem que mudar é bom.
Creio que é teoria nascida na inevitabilidade da mudança.
Gostamos sempre de arranjar argumentos, explicações para este emaranhado de emoções, sentires, pensares que é ser pessoa.

Tendo como ponto assente que mudar é obrigatório, temos de ser participantes activos nesses saltos da existência ou . . . pelo menos tentar.

É que não podemos viver a vida dos outros.
A nossa basta.




quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Do encantamento



Encanta-me encantar-me.
Viver naquele estado onde os pés não sentem a terra e o corpo é leve, leve, . . .
Para já não falar da moderação da mente,
o espírito se hipnotiza e os ruídos cessam.
Tão bom !

O encantamento é um estado de alma onde não me importaria de morar permanentemente.
Transcendendo-nos, 
somos mais, 
somos plenitude, 
somos paz.

E desenganem-se os mais céticos: é necessário tão pouco para entrar nessa condição mágica.
Basta aquele 'pequeno nada/pessoa/palavra/situação/lembrança/toque/afago/.../' para o click se dar.


Tenho fome de me encantar, 
assim,
de mansinho,
sem querer.

Opsss !!!
Espanto-me nos engodos,
cego-me em triviliadades
quando somente clamo
por banho de encantamento !


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Ensaio sobre a tatuagem

  
Quem és tu?

Homem marcado
nos pensamentos que te definem,
no engrandecimento por traços e desenhos julgados maiores.

Doas o corpo 
à pena de outros,
sonhando seres,
somente,
tu próprio.

Deixas-me confusa,
com vontade de ver tua pele nua
e saber do teu olhar.

Seria diferente?

Acaso a tua masculinidade cresce
no labor da agulha?

Homem tatuado na carne,
que dizem as cicatrizes
sem tinta? A alma, a essência 
do que se não vê?


domingo, 10 de agosto de 2014

Esta outra Voz



Essa voz que oiço,
 bem cá dentro,
no silêncio a segredar,
aparenta-se a outras vozes 
que correm muito mais
para me fazer parar.

São velozes,
como a sombra que me duplica,
fazendo-me duas.

Na desconfiança, 
avanço em mãos 
que não me prendem
e me aceitam como sou.

O caminho que fizer
rasgará a vida,
ainda que o dia escureça
e as vozes me enlouqueçam.

Assim,
 vou acontecendo por entre 
os sussurros da dúvida
e o sossego do teu olhar
sossegando a pressa do meu.

A transbordar de sons silenciosos
afago esta (outra) voz que canta mais alto,
o querer ser Eu.



sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Do José Carlos Sant Anna


A amizade, 
esse amor com outras paixões, 
traz paz e vem sempre grávida de descobertas, 
entrelaçada em cumplicidade de pele, 
sentires adivinhados, 
carinho sem contrapartida. 

Por aqui é assim, na Blogosfera.

E é tudo muito Bom . . .

Hoje quero acolher e celebrar o José Carlos Sant Anna, que nas suas Dúvidas Aquilinas e no delicioso Tão Preto me tornou fã incondicional da sua forma de agarrar as palavras e fazer magia.

Um blogger que merece todo o meu respeito pela sua sabedoria e inspiração sem iguais.

Visitem-no!

As suas espaçadas publicações fazem valer a pena toda a espera.



 Brooke Shaden


"Antes que pinte outro verão
devolva-me o pássaro e a gaiola

desta fugidia noite de águas espessas
em que me apertas contra o peito

e não me perguntes o que eu não sei;
agora inventemos alguns sussurros

para o enlevo que em si mesmo se abre
mais perto do céu para tocá-lo com as mãos

enquanto as tuas águas escorrem
entre as rosas, o rochedo e o mar.

Com os lábios abertos e as conchas 
fitando a carícia do teu corpo 

contra o meu, e o mar em ondas 
de brancura vindo, indo e vindo,

me abriga bem dentro do teu corpo 
aonde eu me perca, afogando-me

inextinguível nas contrações de tua boca. "

(José Carlos Sant Anna) 



Um beijinho para ti, José Carlos, e não te esqueças daquele especial para Tão!