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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

com fome e sede



É rosa o teu desejo
em que latejo 
com pequenas mãos
deslizando 
em veludos teus,
maciezas tatuadas
no apetite
de me aconteceres.

É a improbabilidade
da ânsia
que me aporta
por mares e oceanos
revoltos
na sede de te amar.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Entardeço



Entardeço 
na areia
beijada 
por marés incontáveis,
como repetição de ti,
sempre desconhecida,
renovada,
em cada lua,
pequenina,
por vezes.

Enraízo 
por entre grãos,
pequenos nadas 
que se agigantam 
em tudo,
da mão cheia
às dunas sem eco.

É a minha praia,
o meu raio de sol 
último
a chegar primeiro
no poente lindo
em que te transformas
quando entardeço.


terça-feira, 27 de dezembro de 2016

amo-te


amo-te 
com a ternura 
do olhar,
o veludo do desejo,
o nó da pele
e as sobras
de entranhas 
outrora vivas.

amo-te
com tempo,
soltando-me
e perdendo-me.

amo-te
porque
 nada mais resta, 
nem eu
ou
o meu amor.


quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

histórias


Desenrola-se a narrativa
como pergaminho antigo,
enrolado sob pedaço de cordel,
atada no fio do tempo.




Sou uma vida
de começos vários,
recomeços ainda mais
sem me faltarem inquietações,
dúvidas e falta de chão.

Falto-me a mim,
meu maior medo,
sobro-me em aparas de arrependimentos,
escorro-me no não
quando me apetece sim.

Oh! História da minha vida!
Vem contar-ma outra vez!



terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Não !


Não!
Não quero ser grito sem eco,
vela sem mastro,
flor sem perfume.

Não!
Não quero ser preço sem valor,
laço sem presente
dor sem sentido.

Não!
Não quero ser estrela sem luz,
nuvem sem vento,
pérola sem ostra.

Não!
Não quero ser confusão sem clareza,
outono sem primavera,
poesia sem vida.



sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

vagarosas pressas



Há vagar
 no teu jeito,
em olhar estendido
para lá do visível.

São vagarosas 
as tuas pressas
no encontro
com minhas 
impaciências demoradas
ou velozes pausas.

Há pressas
no meu jeito,
em vontades à solta.
para lá do razoável.

São tardias horas
aceleradas na sofreguidão
do aperto do tempo,
pois 
as pressas são muito vagarosas...
(pelo menos para mim)

Pérola

sábado, 10 de dezembro de 2016

poeta-me


Poeta-me
como rio na foz
por entre fusões 
de águas desiguais.

Poeta-te
bem dentro de mim
por onde os versos
fluem em vagas de prazer
e as rimas se despem.

Poeta-me
como se fosse flor
em jardim selvagem,
rústica prosa com sonho
de ser poema.
Pérola



terça-feira, 6 de dezembro de 2016

labirinto



Entro por essa porta
sem bater,
avisar 
ou me fazer ouvir.

Na desordem da quietude,
percorro teus corredores,
aventuro-me nas tuas salas,
segredo-me em teu roupeiro.

Abeiro-me das tuas janelas,
colho os teus horizontes
e,
sem saber,
faço morada em ti,
perco-me nos teus labirintos
ao me achar em colo teu.



quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

... deixo-te ...



Deixo-te ser horizonte,
céu de constelações,
voo sem asas.
 em infinitudes minhas.

Deixo-te em guerra,
batalha íntima,
coração solto,
em amores meus.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

poesia na vida


Repito-te na maré cheia,
quero-te mais na vazia,
sou assim,
resistente na persistência
de voltar,
mudar,
e não abdicar de ti.

Repito-te na desfolha,
atalho-te mais na floração,
sou assim,
clima sem estação,
resposta sem pergunta,
em pequenos nadas,
no tudo despejado.


Quando tu me existes
vejo poesia na vida.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

beijo



quero um beijo
eternizado
de sabor a musgo
húmido
em tronco vivo
desapressado
segregado em tua boca
desejado
suspenso na suavidade
vagoroso 
de crescimento cristalizado
aqui
agora

quero um beijo
do teu corpo
com textura
de tua boca
para sempre
em mim

domingo, 20 de novembro de 2016

já agora, chá !



Chove no meu chá
a lágrima passada,
íntima,
confidente de sempre.

Chove no meu chá
o sorriso por nascer
auspicioso,
esperança de amanhã.

Chove no meu chá
a impaciência presente,
desafiadora,
prometedora de aqui,
já agora.


terça-feira, 15 de novembro de 2016

sem (a) razão


Tenho sementes em minhas mãos,
amor para plantar,
desejos que me sobram
entre dedos em busca de chão.

Tenho frutos em mim,
ternura para doar,
vontades que me excedem
entre peles em busca de corpo.

Tenho paixão em espera,
chama para atear,
querenças que me transcedem
entre insanidades em busca de verdade.

Tenho coração cor de rosa 
multiplicado em terra sem razão.



domingo, 6 de novembro de 2016


Há uma luz por acender,
um fogo a atear,
um desejo por saciar,
um beijo por provar,
um sonho a concretizar,
uma mão a dar.

Há novo
em cada segundo,
começo
e recomeço,
no êxtase do desafio,
nas cinzas por acontecer.


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

The World

Tanta diferença,
tanta cor, 
tanto mundo!


Sou,
apenas,
mais um ponto,
uma pincelada 
por escorrer,
das mãos
de um pintor 
por nascer.

Sou vida
sem ser nada,
o todo
em partícula ínfima.

Sou desigualdade
em terra fértil
de uniformidades
suprimidas
no grito do ser,
de eco mudo.

Sou diferença,
sou cor,
sou (o) mundo !

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

por entre dedos


Sei de cor
cada linha de tua mão,
o perfume do teu toque,
a temperatura da tua pele,
a humidade da maresia
que se solta 
por entre dedos.

De olhos fechados
percorro cada curva,
rumo sem norte,
em estrada de 'nós'
trazidos na maré,
por entre dedos.



segunda-feira, 24 de outubro de 2016

floral

Brotam flores
do teclado
onde te escrevo.

Chove lá  fora,
primavera-se aqui.

Não sei que te diga,
as palavras soltam perfume,
as pétalas cobrem-me o olhar.

É tudo floral
na germinação da Web.

sábado, 22 de outubro de 2016

de ti


Desdobras o teu olhar
em vincos doces,
como se estendesses toalha
em preparação de banquete.

Dasatas tuas mãos
em nós mansos,
como se servisses doçura
em mesa de sobremesas.

Dasabotoas o teu corpo
em prazer insinuado,
como se te oferecesses
em época de natal.

Desalinhas teu cabelo
em loucura sem espera,
como se desorganizasses
a cama onde me deito.

Desagregas o meu ser
em fusão plena,
como se quisesses
suspender-me em ti.


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

em bicos de pés


Aclara-se o som,
solta-se a melodia,
no balanço do teu ritmo.

Cresço,
em bicos de pés,
sobrando-me
em peso
que já não é meu.

De extremidades frias,
arrepio-te um sorriso,
estremeço-te um olhar
em dança só nossa.

Ensaia-se o tom,
cristalino,
 como poesia
em forma de ti.

Deslindam-se intimidades
na pauta sem claves,
página branca,
por onde rodopiamos
escrevendo toadas
no calor do teu corpo.



domingo, 16 de outubro de 2016

com pérolas


Só porque sabes
do meu gosto 
por pérolas,
não me podes 
aprisionar nelas,
fazer-me refém
das tuas fantasias,
de teus desvarios,
das tuas vontades
mais secretas.
Pois, 
não podes!
Mas, eu deixo!
Prende-me,
ata-me...
... com pérolas.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Cristalizada

Percorro cada instante,
agarro o momento
de cada urgência minha,
como se fora eternidade,
em premente necessidade
da tua quietude,
do teu afago,
de ti.

Trilho cada miragem,
revolvo o olhar
em cada profundidade minha
como se fora caminho,
em inevitável iminência
da tua margem,
da tua proximidade
da tua orla.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

da tentação


"A única maneira de se livrar de uma tentação é ceder a ela!"

(tradução literal)

Oscar Wilde


Alguém me fala da tentação,
eu não entendo.

Fico-me no instante,
perco-me no olhar,
em cegueira supérflua.

Sobejo-me em 
desenfreados pensares,
esqueço-me de respirar.

Livro-me dela, ao ceder?
Resisto-lhe?
Ou abro a caixa de bombons
e,
simplesmente,
provo o manjar,
em tentação?!



"Posso resistir a tudo, menos à tentação."

Oscar Wilde


domingo, 9 de outubro de 2016

sem palavras



São palavras os teus beijos,
com que me escreves,
 onde me conto.

Histórias pontuadas
em plenitudes exclamadas,
reticentes ou sem ponto final.

As interrogações fazem parte
da  ortografia que te é peculiar,
usa-las na ponta dos dedos,
de mãos cheias.

Riscas-me o ser
por entre traços
que emergem intimidades,
escondidas,
segredos desconhecidos,
em transcendências do mais além,
profundidades
que desejo.

A tua caligrafia sabe de mim,
em letras inscritas 
com o teu corpo,
nas cartas sem selo,
no teu querer manuscrito.

São livros os teus lábios,
com que me romanceias,
onde me folheio.

Pérola


terça-feira, 4 de outubro de 2016

presa



São laços de veludo
que me prendem,
vermelho escarlate
ou púrpura divino,
não o sei.

Limitam o vento,
e a chuva 
que cantam
lá fora,
onde não chego.

Quero lançar
minhas pétalas
ao espaço,
em vácuo
que me será casa,
onde me preencho 
e serei completa.

São correntes
enlaçadas,
ferrugem amaciada no tempo,
ilusão da suavidade
de cadeado por  abrir.

Estou presa em mim, 
algema em veia
a passar-me no coração.

Pérola


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

humanidades em questão


Porque sangra alguém
por decisão de outro?

Porque não dás a mão
a quem a ti suplica?

Porque a guerra 
se tornou regra?

Porque a indiferença
faz mais estragos 
do que a diferença?

Porque há tanta alma
sem corpo
e corpos sem almas?

Porque sou assim?

Porque a voz do olhar
não é suave e meiga?

Porque não escolhemos
o amor?



sábado, 1 de outubro de 2016

... quero ...


Quero traduzir-te
sem idioma.

Quero legendar-te
sem palavras.

Quero decifrar-te
sem pudor.

Quero adivinhar-te
sem noção.

Quero descobrir-te
sem roupa.

Quero ler-te
sem fôlego.



quinta-feira, 29 de setembro de 2016

?... ! ; " : " .



* Gastam-se as palavras?

* Desbotam as interrogações quando lavadas em exclamações?

* Desaparece o ponto final na viragem do parágrafo?

* Pode o silêncio falar mais do que qualquer verbalização, imagem ou escrita?

* Vive-se na paragem das vírgulas da vida?

* Escorremo-nos no corpo das reticências?

* São as aspas sombra ou luz?

* Tendemos para o equilíbrio quando somos o ponto e a vírgula?

* Explicações são precisas em pontos encavalitados?

* Não sei, ponto.



quarta-feira, 28 de setembro de 2016

mulher


Mulher, senhora de si,
rocha firmada em areias movediças,
dona de raízes,
caules 
e botões a desabrochar.

Dama, vestida de lady,
nudez frágil a quem sabe ver,
rainha de nadas, 
coisas algumas,
por acontecer.

Princesa, sem príncipe,
contradição por legendar,
espera inquieta, 
desassossegada, 
no quê, 
porquê e porque não.

Mulher, insana,
carência florida em pétalas já desfolhadas,
leve no excesso de se ser,
de se querer ser,
em sonho de outro.

domingo, 25 de setembro de 2016

beach, please



Faço ninho,
em areia beijada pelo mar,
com fragilidades
recolhidas por ali.

São desejos entrançados,
sonhos em forma de teto,
 apetites espalhados pelo chão.

Monto tenda,
sem cimento ou tijolo,
em atrevimentos suspirados,
sem medo ou ideal,
como acampamento por agora.

É a tua praia
que me chama,
o salgado da tua pele 
por provar,
as linhas do teu corpo 
por escrever.




quinta-feira, 22 de setembro de 2016

sem mãos


Faço o mundo
com uma mão cheia de nada
e outra vazia de tudo.

Tenho na mão
um punhado de alguém,
flores de outras sementeiras,
pedaços de outras partes.

Floresço-me por entre dedos
nascidos por aí,
em raízes íntimas
da natureza em germinação.

Sou-me vida bravia,
perdendo-me e achando-me
na palma da mão,
minha ou, talvez, não.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

na lua


Esconde inventos,
mitos e precauções.

É mistério, 
segredo ferrolhado,
tão profundo,
nem tem chão.

Segreda possibilidade,
demora e horizonte.

Derrama audácia
como se atrevimento fosse
cautela.

Envolve o meu ser 
em neblina que ninguém sopra.



terça-feira, 20 de setembro de 2016

permitir-se


Não sei se ouse, não.
Atrevo-me e depois vem de lá
o dedo apontado, o juízo
sem contar com a culpa.


No verbo permitir habita
a coragem, a audácia 
e o sorriso.

Há caminho aberto,
eventualidades
e aventuras anfitriãs.

Viver sem permitir-se
é como rio sem foz,
ave em gaiola,
mar sem maré,
sol sem dia.

Permito-me.

Há que permitir-se
sob pena do vazio
do aconchego,
 da acomodação,
de se ser por inteiro.

Dou-me permissão 
para permitir . . . ouso, pois claro.