quinta-feira, 8 de junho de 2023

O Vento


Estremece-me,
arrepia-me,
o vento teimoso,
esta corrente sibilante 
de semblante divertido.

Cerca-me
e
agarra-me,
desafia-me 
a procurar moradia
para lá das nuvens,
para lá do horizonte.

Conta-me do outro jeito,
do outro lado de mim
por onde as flores falam,
os sorrisos saciam
e os beijos curam.

Quer a minha mão, 
quer a minha alma
em dança ritmada,
ora leve
ora vigorosa,
sussurrando
memórias 
e
promessas
de ti. 

Em abraço ampliado,
cerro olhos
em inspiração profunda,
e
atrevo-me
a deixar ir-me...
por onde moras,
por onde o vento nasce.
 

quarta-feira, 7 de junho de 2023

A Noite

 

Levanta-se a noite

desperta
por ainda 
estar a nascer,
por ainda ter de crescer,
no acaso
de (mais) um dia,
preso nas folhas do tempo.

A noite casada no dia,
tem ciúmes da luz,
da outra parte do dia,
que por o ser 
se confunde com o mesmo.

A noite levanta-se
e,
com propósito de descanso,
deambula 
com os sonhos no regaço
e
os desejos embalados
em cantoria da sua voz.

Veste-se para sair com a Lua
que a aguarda grávida de luz.

É que na noite moram brilhos especiais
e os seus olhos refletem
a tranquilidade dos beijos dados
na sua sombra.

A noite a pé
percorre céus estrelados
sob o olhar intenso da sua Lua,
despertando amantes e amores 
escondidos
do dia pálido de desencontros.



quarta-feira, 19 de abril de 2023

espelho

 


No espelho de água
mora um sonho de mim
onde o céu se une
à dança do vento.

São reflexos impermanentes
quais pensamentos
que te buscam
em frenesim louco,

Os ecos da fluidez 
estão impregnados
da fantasia ávida
de ti,
ardor que me corre pelas veias,
espelho de água 
onde te contemplo e desejo.


terça-feira, 18 de abril de 2023

Detenho-me

 


No diferimento de ti,
detenho-me
mais um pouco,
tanto mais,
no desenho de tuas curvas,
no calor fresco da tua pele.

Ainda trajo o teu olhar,
ainda moro na tua ilha
a palpitação não se quer acalmar.

Sinto-te em vagas saborosas
de memórias em flor,
com a vivacidade poderosa
de simplesmente estar contigo.

Acredita,
não me és exagerado,
impregnas-me de amor,
de subtilezas divinas,
o melhor de mim,
o melhor da vida,
do mundo.

Surges-me na esquina de cada segundo,
à flor da pele
e nos abismos da essência
com uma docilidade de outras dimensões,
uma querença arrebatada,
elevada
e abrangente,
qual chuva em praia sem abrigo.

Ainda hoje
te fazes presente,
te oiço a voz,
respiras no meu peito,
te abraço com força
pois se não te quero ver partir,
se te desejo aqui,
aí,
por onde andas.

Detenho-me numa vida suspensa
de encontros que transbordam no tempo
que se querem eternos,
numa permanência inacabável.

Ainda te sinto...


segunda-feira, 20 de junho de 2022

nada Querer


 O reparo descia-lhe pelo regaço

em espera descuidada,

como criança inocente

lambuzada por doces proibidos.


Que lhe importava?


Pois se tudo 

nunca bastava,

quedava-se 

em imperfeições,

de moldes múltiplos.


Permitia as vozes oferecidas,

os humores de outros,

tamanhos que não lhe serviam,

águas de fontes forasteiras.


Até aquele último reparo 

foi acolhido,

na sua indiferença cuidada.


Era ferida em sangue

zelada pela firmeza

de não aquietar-se

com receios estéreis,

envolta numa serenidade saudável

de tudo esperar e nada querer.

sábado, 18 de junho de 2022

orvalho



Nasce a manhã,
em aveludado começo,
promessa de um Mundo,
em vida orvalhada,
qual frescura tenra,
prenhe de flores,
sementes 
e da tua pele.

E esse Novo 
transborda de vigor,
pois 
se tua pele é corpo,
por explorar,
acabado de nascer
no orvalho.

Vem,
meu querido,
aninha-te em mim,
colhe a minha
 sede e fome de ti.

Deixa,
meu amor,
que o orvalho
seja nosso amigo,
confidente,
nesta madrugada
onde te nasces
e eu te amo.


quarta-feira, 3 de novembro de 2021

esse mundo ...


 Tem esse mundo

à minha espera,

mesmo aqui,

no meu pensamento !?

ou

sou eu que espero

todo esse mundo,

por aí,

no meu sonho !?


Não sei

e essa ignorância

queda-me triste,

sentada nos meus próprios sentires,

anseios e vontades.


Tem esse mundo ... 

 por  onde?


Foge-me de dedos entrelaçados com o tempo,

com ares de gigante,

olhando-me de soslaio,

como se fosse coisa pouca.


Chamo-o de mansinho,

grito

e clamo,

em vão.


Tem esse mundo

que espero

ou

espera por mim ...


quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Quando te vais


 Para lá de mim,

acinzenta-se o horizonte,

quando tu te vais.


Deixas-me 

com o orvalho frio da ausência,

a saudade já presente no teu

derradeiro beijo.


Não te vás,

fica!

Ou leva-me contigo!

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Por um triz


Por um triz,
coaram-se perfumes
em tuas mãos,
filtraram-se olhares,
semicerrados,
prontos a serem
devorados.

Por quase nada,
o mundo encheu-se 
de outros mundos,
estrelas
e luas cheias.

Por pouco, 
choveram flores,
pétalas e cores
sobre o tapete 
onde te abandonas
em meu regaço.

Sou feliz, por um triz.

 

sábado, 29 de maio de 2021

entrelaçados



No toque entremeado com o silêncio
correm brisas e ventanias,
em corpos famintos,
aquietados
muito depois do dia, 
dos instantes,
momentos e tempos 
para lá da ternura
suave da loucura.

Na pele quente,
 suada,
desenha-se o desejo de mais,
percorrem-se lonjuras
com mãos e pés,
preenchem-se vontades alargadas,
em nascentes sempre novas
de ti,
de nós.


 

domingo, 14 de março de 2021

Nem sei ...


Nem sei como horizontes permanecem
como o sol pode azular a manhã
pois se tudo está longe,
foge-se-me da alma
como se o caos normalizasse a vida.

Nem sei como ainda respiro
e espreito os cantos das aves
e as flores a desabrocharem
pois se me acho perdida
na solidão do tempo,
em eras cobertas de pó
e eu desapareci.

Pois se quero o mundo,
oceanos tranquilos,
rios e cascatas frescas por onde 
possa ser-me
e ter paz.

 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

e agora?



E agora 
que as folhas se foram
e me sinto desnuda
na invernia que se aproxima?

Que é de mim, 
por entre frios,
gelos
e manhãs orvalhadas?

Não sei,
já não sei
nem do agora,   
nem do amanhã,
tampouco do que se foi
por entre dias apressados
e sonhos esburacados.

E agora?

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

divagando



Caminho por aí,
no acaso de querer,
 e de tanto querer
me perco.

Persigo sonhos,
colho flores
como se o amanhã
não me chegasse.

Estendo futuros por secar
em brisas doces
nascidas de ventanias
por conhecer.

Sou-me assim,
a modos menina cor de rosa
envolta em viagens de outras cores
porque a vida é assim.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

era...


Era vida suspensa
em molas frágeis
como gelo ao amanhecer,
arrepiado,
na luz anunciadora
de novo dia,

Era olhar com tempo
entrelaçado em histórias
de aqui,
de outros dias
e sem calendário.

Histórias a morar
na fantasia,
ilusão na ponta do pensamento
como se fosse a realidade 
mais enraízada
do mundo.

Era apenas vida 
correndo
nos dedos do caminho
ora escolhido,
ora tropeçado,
deixando leve perfume
esvaído na passagem.

Pois,
 se era
e já não é!?


sábado, 9 de fevereiro de 2019

Sonhando


Há sonho pairando
no horizonte
para lá do que vejo,
para além do que imagino.

Navega por céus
nunca antes vislumbrados,
nunca antes vistos.

Está longe,
tão longe
como minha alma
chamando o que sou.

Há sonho distante,
profundo,
viajando sem rumo
à espera de mim.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

perco . . .



Perco o chão por entre linhas
ao acaso,
no murmúrio de palavras
que me chamam
como se eu fosse alguém.

Sorrio nesse abandono
do alheio
e até de mim
como se pudesse
não existir.

Quero pensar no caminho
com sentido,  
na vida sofrida
com visões aquecidas
no sol de querer
e ousar
o amor.

Perco a verdade de ontem
devagarinho
porque o hoje está
na página que viro
no outro livro que abro.

Sou a modos
trilho incerto,
vereda sem tino,
ar que me entra
sem saber
da respiração
que perco . . .


terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Vida em cascata


Escorre-se-me a vida
em gotas,
fragmentos líquidos
ora felizes
ora tristes.

É riacho escorregadio,
foge-me
como se o controle
não me quisesse,
ou fora desajeito meu.
Nem sei!

Cai-me a vida
em cascata
em mim,
por mim,
deixando-me 
na linha do tempo,
à toa,
 talvez, 
ou,
de sorriso embrulhado
na essência de mim.

Flui-me a palpitação
de coração inquieto
na demanda de ti
porque te sei
de amor semeado
por mim.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Só tu . . .


Só tu me abres,
conheces meu código secreto,
password sem regra.

Só tu me fechas,
mergulhas em interior meu
de um só fôlego.

Só tu me viras do avesso,
decifrando cada pedaço
escondido do mundo.

Só tu me fazes falta,
em cada inspiração
em cada instante de mim.

domingo, 9 de dezembro de 2018

Por hoje . . .


E o dia cinzento lá fora
alheia-se das chamas
que me aquecem a pele.

Sou só eu!
Eu,
no novelo aquecido
pelo fogo,
no livro em minhas mãos
 onde as letras  se atropelam,
desfazem palavras,
quebram parágrafos
em ritmo de batalha longíqua.

Distraio-me em quietudes de lá de fora
e sobressaltos d'alma.

Medos,
Dúvidas,
Incertezas,
não me vestem,
não me servem.
A modos que se passeiam por ali
em demanda de pouso.

De nada importam.

Mergulho num suspiro,
inflamo naquele lume
do tamanho de Tudo
e sorrio.

Por Hoje,
sou só Eu!


sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Quarto


Há um quarto por aí,
na encruzilhada
de estradas
e caminhos,
onde nascem
pérolas,
rosas,
e outras
cousas  minhas.

Há um quarto por aí,
na linha do tempo,
onde cascatas
do teu ser
se derramam
em meus olhos
e a tua pele
me sacia
a fome de amor.

Há um quarto por aí,
no rio manso
da saudade,
onde sei de mim
ao percorrer
teu corpo
morno
por entre veludos
e ganas de te querer mais.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

A Distância de Ti...


Foi na melodia
em que me perdi,
por entre teus braços,
afagos e suspiros,
enfim.

Mesmo ali,
na linha da música,
rente a ti,
voei,
soltei-me
por entre notas,
pautas
e coisas de Mestre.


Foi ainda agora
este sentir
guardado
no segredo 
da nossa música:

a distância de ti.


quinta-feira, 27 de setembro de 2018

semeando


Deixo-me tombar 
no macio
da terra húmida 
que chama por mim,
e,
onde te escondes,
tu,
desejo meu,
incontrolável, 
insano
como erva sem sementeira,
natureza selvagem.

E,
 assim,
 me quedo,
soltando-me nas profundezas,
onde sei 
que um dia
serei flor.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Dóis-me!



Dóis-me tanto,
mas tanto
que não há medidas
para ti.

Gosto-te ,
em cada respiração minha,
demasiado,
tanto,
que  não cabe no Amor.

És-me,
 o vício entranhado na pele,
doença sem remédio,
ferida exposta,
a ânsias de te querer esquecer.

Dóis-me por todo o lado
ontem e hoje,
aqui e além,
de noite e de dia
como se tu pudesses
saber de mim,
querer-me ...
... nem que fosse só Agora.


terça-feira, 15 de maio de 2018

Sem Toa


À toa,
por aí,
acolá,
escorro-me no tempo
devagar
ou a borbulhar
eu sei lá.

Ebulições 
e ribeiras mansas
pertencem-me
como se fossem acalmia,
portos de abrigo,
na ponta de minhas mãos,
à toa.

E quando,
 de verdade,
cheiro a primavera,
pétalas e perfumes 
transbordam-me a pele,
autorizo-me,
deixo o mundo
e sou-me.


segunda-feira, 16 de abril de 2018

deixa ...



Deixa-me ir com as ondas,
afundar-me no silêncio
das profundezas,
deixar de sentir.

Solta-me as amarras
deste querer desmesurado,
desta vontade de ti
antes que enlouqueça
na beira-mar
onde te ouço, 
te cheiro,
te adivinho.

Permite-me ser outra qualquer,
aquela 
que desconhece a tua pele,
o teu olhar,
o teu feitiço.

Permite-me fugir de mim
onde te és
na minha essência.