sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Negro Profundo ( 18 )

Essa semana de luto conduziu a uma maior intimidade entre os dois amigos de infância.
A cumplicidade sempre tinha estado presente e conseguiam entender-se através de pequenos gestos involuntários, de olhares, enfim conheciam-se duma forma genuina e insubstituível.
Samara afastava os fantasmas que tinham regressado do seu passado: a rejeição da família, a intolerância que não conseguia perceber.
Por outro lado, o carinho com que era rodeada na familia adotiva ajudavam-na a superar pensamentos sombrios e liquidar qualquer assombração.
O jeito sonhador de Luís continuava a proporcionar-lhe momentos de riso. Desfazia-se em histórias de animais que nos íltimos anos povoavam o seu universo universitário no seio do Hospital Veterinário.
Tinham em comum o gosto pela vida, a saúde e trocavam conhecimentos.
Dentro em pouco seriam profissionais e ambos pretendiam regressar para a cidade perto das Mimosas onde esperavam poder ajudar, cada um na sua área.
Num dos passeios pelos campos coloridos, Luís traz a mão de Samara na sua como já era habitual.
Porém, desta vez, o rapaz pára e olha profundamente os olhos negros de Samara.
Esta até se asustou com o sério semblante. A brincadeira e o olhar alheado eram mais habituais na sua face.
Luís aproxima-se da face de Samara e deposita-lhe um leve beijo nos lábios.
Acrescenta: 'Sei que não é a melhor altura...mas, adoro-te, aliás, estou apaixonado por ti...queres ser minha namorada?'
(continua)

Era Uma Vez...(histórias para adormecer)


Passeio em trilho conhecido. Conheço cada curva, cada sombra, cada pedra que piso. O cenário roda consoante as estações naturais.
Prossigo, tenho de continuar.
Sempre.
Naquele dia a surpresa fez-se companhia de caminhada.

Conheci-te.

Rasgaste-me um sorriso e os teus olhos aprisionaram-me.

Nova vereda descobri, contigo.

Deste-me a mão e sem receios deixei-me conduzir.
As tuas palavras enfeitiçaram-me e as nossas passadas exalavam perfume embriagante.
O percurso foi intenso.
Mostraste-me uma dimensão secreta, um esconderijo apetecível.
Foste  Luz que dasabrochou uma mulher contida em mim.
Tornaste-te minha Estrela Guia, brilhando ao longe.
Sigo, repetidamente, pelo trilho conhecido sabendo-te aí, guardador de desejos proibidos.
E a história continua . . . desconhecendo o que a senda nos reserva, aguardando amoroso resgaste.

Esperas por mim?

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Negro Profundo ( 17 )

Após o funeral da mãe, apenas a avó se lhe dirigiu aconselhando-a a continuar afastada da família.
Tinha sido escolha dela, não poderia reclamar. Um terno beijo depositado na sua testa denunciava um carinho inexistente nas palavras proferidas por Aurora.
Toma o caminho da casa principal das Mimosas agora seu lar.
Altura de exames do primeiro semestre. Do Grupo jovem da herdade apenas Luís tinha faltado para receber e consolar a amiga. Aconselha-a a vestir outra roupa.
O negro pesa-lhe a silhueta.
Completamente exausta, sonâmbula, anui e dirige-se ao seu quarto, de há cinco anos a esta parte, contíguo ao de Matilde.
Aproveita para tomar um duche, veste uma ligeira camisa de noite e deixa-se envolver pela escuridão proporcionada pelas portadas cerradas em plena tarde luminosa.
As últimas quarenta e oito horas tinham-se transformado num pesadelo. Custava-lhe conciliar o sono apesar do torpor a invadir.
Familiares e amigos desfilavam à sua frente como se a  um filme assistisse.
Contudo, as cenas tinham como pano de fundo o cenário onde vivera as últimas horas.
Debatendo-se com os fantasmas é finalmente vencida e adormece.
Desperta após vinte horas de sono initerrupto, por volta da hora de almoço do dia seguinte.
Lentamente, recolhe as lembranças recentes, sente-se invadir por melancolia companheira.
Levanta-se, e ao abrir a janela, os pais de Matilde acorrem a saber da sua menina.
Samara,, apesar da dor presente causada pela eterna ausência da figura materna e pela indiferença sentida pelos membros do seu clã biológico, consegue esboçar um sorriso e sussura um: 'Estou bem.'
Sózinha, olha para o Negro total qua a vestira na véspera e decide não tornar a usá-lo.
Retomaria a vestir a roupa escolhida por si nas lojas da cidade.
Sabendo que já estava acordada, Luís fez questão de aompanhar a refeição da amiga de infância.
Como já tinham perdido os exames poderiam usufruir da próxima semana de férias e desfrutar da companhia um do outro.
Depois, recomeçaria o segundo semestre e com a exigência do curso, seria de esperar que Samara voltasse ao nível a que habituara amigos, professores, colegas e a si mesma.
(continua)

Silvestre


Silvestre é meu querer
à razão não gosta de obedecer.

Silvestre é meu palavrório
que se escapa de sensato território.

Silvestre é meu corpo desenfreado
sem defesas fica desamparado.


Sou florzinha silvestre.
Singela.
Sózinha.
Sem cuidados de jardineiro.
Nasci, cresci nos cuidados dos vendavais, do Sol abrasador.
Sou perfume bravio,
de toque rude.
Aguardo cuidados desbravados,
ternuras sonhadas
nas pétalas do meu ser.
Balouçando ao sabor da liberdade,
esboço sonhos...
Sem amarras ou entraves
alcanço vertigem selvagem.
E na vulnerabilidade do bravio
finco raízes
aguardando a colha do amor.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Senhora do Lago !


Escorre mel no teu lago guloso.

És minha morada,
habitat perfeito.

Sou nenúfar aberto
em branco luminoso.

Flutuo
alimentado-me de ti.

O delicado movimento do teu fluido ser embala-me.

Adoças-me
na mansidão do teu amplo abraço.

Ao sabor de murmúrios
danço na fronteira do ar com o liquido.

És lago meu,
de profundidade amada.

Sou senhora tua,
abandonando-me no teu húmido beijo.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Fosse eu ... um rio ...



Fosse eu...um rio...
Galgava o leito e inundava o teu ser com águas perfumadas.

Fosse eu...um rio...
Inundava o teu corpo quente com a fresquidão do meu querer.

Fosse eu...um rio...
Caía em cascata no abismo do teu olhar.

Fosse eu...um rio...
Marulhava suspiros inebriantes lançando-te feitiço.

Fosse eu...um rio...
Serpenteava o teu desejo provocando-te loucura.

Fosse eu...um rio...
Saciava-te a sede de prazeres inconfessáveis.

Fosse eu...um rio...
Mergulhava-te em mim...e desaguaríamos em praia deserta.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ano Novo...Calendário...Inquietações

Nem os apelativos calendários, já à venda, me fazem desejar o Ano Novo:  2013! Cujas passadas começam a fazer-se ouvir.
Admito que a passagem de ano sempre foi uma das minhas épocas festivas preferidas.
Até porque um dos acontecimento mais marcantes da minha existência ocorreu num desses eventos.

Contudo, este ano repleto de acontecimentos aflitivos a vários níveis está grávido de outros mais catastróficos.
Bem sei que pode ser só meu negativismo a falar: "...blá...blá...blá".

Já se aperceberam que (quase) todos os dias há notícias de aumentos de impostos e cortes em direitos essenciais?
A politica não é o meu forte. Nunca o será nem tenho tenções que o seja.
Mas, se o desemprego galopa, a população está envelhecida e cada vez reduzem mais os apoios relacionados com essas realidades que acontecerá à já nossa fraca economia?
Não sei! Nem quero saber.

Vem daqui a minha vontade de parar no tempo.
A esperança desapareceu do meu horizonte e não gosto nada da sensação, mesmo nada.

Para os entusiastas deixo uma sugestão de calendário aos admiradores do estilo mais nortenho da Europa:


Para os que preferem a tez mais morena também há opções:

O género masculino hetero que me perdoe, mas calendários de mulheres há em maior quantidade, é só procurar, a variedade é infindável.

Quanto a mim talvez opte pelo calendário chinês. Afinal pouco falta para tomarem posse de nós.

Ou talvez me renda ao Calendário Maia. Acabando em 21 de dezembro nem com o Natal terei de me preocupar quanto mais com novo ano.

Tudo isto para confessar que a catalogação do tempo pelos humanos me afeta.

E afinal são só momentos atrás de momentos...

domingo, 25 de novembro de 2012

Conheço-me ! ?

Com a imaginação a diluir-se na água incessante que cai, deixo que a Pantera mais feminina do Universo (pink, pois então) constate o óbvio:

* Sou a pessoa que mais sabe (ou tenho a obrigação de...) sobre mim. *

Afinal estou comigo, 24 horas por dia, desde sempre.
Senti cada segundo desta existência e experenciei todos os acontecimentos.

P.S. Qual a razão pela qual qualquer pessoa tem sempre opinão convencida sobre outrém?

sábado, 24 de novembro de 2012

Querido Diário...


Meu querido Diário,

Faz tanto tempo...já nem me recordo quando te escrevi pela última vez.
Sabes? Não tem sido por falta de tempo.
Nunca te cheguei a contar, mas alguém encontrou o meu 'caderninho' e fui castigada pelos sentimentos expostos. Há certas coisas que não conseguimos ou não podemos expressar na face de quem nos magoa.
Foi o caso.
A autoridade de mãe ficou beslicada pela minha irreverência nas confidências que te fiz.
Fui castigada por escrever sentires íntimos que à luz da distância parecem tão infantis. E eram-no realmente. Afinal mal tinha entrado na adolescência.
Pois bem! Senti-me violada e nunca mais te escrevi uma linha.
As palavras ditas podem ser esquecidas, reinventadas, argumentadas, distorcidas ou simplesmente ignoradas.
Agora a escrita é outra história. Constitui facto, prova de 'crime' e a interpretação tão subjectiva.
Por outro lado senti-me suja com o ocorrido e no alto da minha tenra idade a baixa auto estima não ajudou.
Passado já passou e nem sei porque me lembrei de ti.
A verdade é que aqui estou eu a dizer-te que já me aconteceram milhões de coisas, tropecei em muitas pessoas novas e 'eu' talvez já nem exista como me conheceste.
As conversas que tinha contigo acontecem agora no mundo dos meus pensamentos e são diálogos interiores.
Há pensares que não devem sair dentro de nós. Para o bem e para o pior.
Termino com carinho e saudade de tempos idos, de confiança pueril.
Saudades de mim, do projecto que poderia ter sido.

Até!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

* Elevo-me *


Girando em voo lunar
ascende querer desmesurado.
Irresoluto odor de chamamento insensato.
Insana loucura grita, chamando.
Batalha travada entre o abismo do desespero e
a luz solar.
Rodopiando, balançam os sentimentos.
Contradições enroupadas em vestes apelativas.
Inquieta escolha aguarda momento  propositado.
No turbilhão de emoções elevo-me.
Desnudo-me de vontades e sentires.
Envolta em perfume  de liberdade,
acaricio pétalas de mim.
De longe, olho-te aprisionado no delírio da realidade.
Invoco-te em rituais de danças etéreas.
Balouçando, pairando na leveza de mim susurro:
- Vens ?

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Negro Profundo ( 16 )

Na actualidade, e com o romper do dia, as lembranças esvaneciam-se.
A dor da partida da mãe estrangulava-lhe a garganta. Aqueles últimos cinco anos tinham-na mudado. Conseguira estudar sempre com o apoio dos pais que a tinham adotado.
Estudava Medicina Dentária, concretização do sonho de criança.
Matilde enveredara pelas matérias da Biologia. João, gestor a finalizar o curso. Luís, que se tinha transformado no seu maior amigo e confidente, decidira ser médico de animais. Continuava a sonhar que iria salvar todos os seres vivos de maus tratos. O pequeno António, que se revelara um rapagão de ideias bem assentes, escolhera engenharia. Adora mecanismos, máquinas e desta forma saciava a sua curiosidade, estudando com prazer.
Matilde sentia-se bem apesar dos fantasmas da rejeição a assolarem de quando em vez.
A morte da mãe reavivava-lhe as assombrações.
A avó veio oferecer-lhe um chá quente. Samara, dormente da posição encaixada no corpo frio da mãe, desperta rápidamente.
Haviam chegado mais pessoas, o negro parecia a única cor existente.
Os homens trajavam integralmente o preto com o preto como adorno.
As mulheres escondiam-se nos seus lenços negros que lhes tapavam a cabeça descendo até à cintura.
Era o caso de Samara, respeitava os costumes e apresentava-se de negro profundo vestida.
O funeral seria dali a pouco.
Acariciando a gélida face da mãe, é depois desviada para o meio das outras mulheres.
O pai, Manolo, de sofrimento estampado no resto, recusa-se a olhá-la. Os seus irmãos solicitam-lhe atenção, de olhos ávidos.
Ainda vislumbra Gonçalo, já casado e com dois petizes pela mão.
Aurora, mulher experiente, avó amorosa convida-a a permanecer em silêncio para afastar distúrbios.
Samara cansada, tudo  cede. A dor experimentada não lhe ânimos para qualquer ação.
Apenas chora, lágrimas secas, dor lacinante.
No marasmo da insensibilidade, provocada pela tristeza, permite-se o embalo inconsciente  nas cerimónias costumeiras naquelas ocasiões.
(continua)

Distância

Percorro momentos de incontáveis segundos.
Passam instantes ao sabor da tua distância.
Aproximo-me permitindo o teu itinerário.
Alcançando-te em abraço de veludo,
prendes-me em laçada de beijo húmido.
Conduzes-me ao teu abismo gemido,
de corpos entrelaçados em único suspiro.
E a distância quimérica
desfaz-se no galope do amor.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Negro Profundo ( 15 )

Decorridos os dois anos a decisão era-lhe exigida. Sem rodeios, com vontade de despachar o assunto, pede audiência ao pai.
De rompante deixou que todos os sentimentos se lhe extravazassem.
O pai ouviu-a e sem possibilidade de apelo decretou: "Pois bem. Se é isso que queres, a partir de agora deixas de fazer parte desta família. Tens até ao final do dia para saires do acampamento."
Virou as costas, deixando uma Samara petrificada. A mãe começou os seus lamentos, agarrando-lhe as saias, pedindo-lhe que reconsiderasse a posição.
Aturdida, Samara pega nos seus parcos haveres, constituidos por livros e cadernos essencialmente. Dirige-se à casa grande.
O pai de Matilde encontrava-se no exterior, inspecionando um tractor que avariara. Ao vê-la percebeu que algo de grave e sério tinha ocorrido.
Semlhe pedir explicações, leva-a até à sala onde a põe à vontade. Quer saber onde pode ajudar.
Pela primeira vez Samara irrompe em pranto. Sem pressas o srº Teles deixa-a chorar até que a calma chegue.
A jovem inicia a narração contando o facto de ter recusado Gonçalo e as consequências que daí advieram. Tinha sido expulsa do acampamento da família. Desconhecia o que deveria fazer. Mas tinha uma certeza, nos seus desasseis anos, não casaria com Gonçalo. Nada de pessoal contra ele.
Apenas sonhava uma outra vida.
O srº Teles, entendendo-a e não querendo conflitos, assegura-lhe que aquela casa é dela também.
Só teria de esclarecer a situação com Manolo, pai defensor de tradições enraízadas.
Fê-lo de imediato e Samara passou a viver com Matilde, sua irmã do coração.
Lamentava ter-lhe sido vedado o contacto com os irmãos, o sobrinho e a mãe que sempre tinha estado de seu lado embora em silêncio. Sempre tinha sentido o seu amor.
(continua)

Passeio



Vestida de ignorado receio

inspiro perfumes do meio,

sonhando com o teu seio

recheado de delícias está cheio.

Tu vens, insinuas-te, alheio.

Fico enredada  na teia do teu enleio

que para mim é gostoso passeio.


P.S. Ninguém merece...

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Negro Profundo ( 14 )

Aqueles dois anos, apesar das rotinas habituais, foram desassossegados. Até perfazer desasseis anos continuou a estudar na companhia de Matilde e dos meninos da Herdade nos tempos mais frios do ano.
A pressão revelou uma Samara mais aplicada, com mais vontade de ser dona do seu medo. Apesar de todas as dificuldades era a melhor aluna. Os professores surpreendiam-se com tamanho empenho e trabalho.
Dedicando-se por inteiro à aprendizagem, encontrava conforto nas conversas e amizade dos companheiros de brincadeiras da Herdade das Mimosas, onde se sentia compreendida.
Gonçalo visitava-a semanalmente, possibilitando  um conhecimento maior do que pretendia ser seu marido.
Gostava dele, mas um fosso repleto de maneiras diferentes, opostas até, de encarar a vida, aumentava cada vez mais.
A identificação com as vidas e projetos de Matide e dos três irmãos Tavares crescia tanto quanto a sua maturidade. Integrava a família de Matilde e as vidas dos adultos das Mimosas eram-lhe referências.
Imaginava-se de poiso certo, vivendo em casa sólida, com emprego e depois, talvez, casando.
O noivado alargado tinha-lhe desperto o interesse pelo género masculino duma forma nova. Dava por si a discutir relações, sentimentos, com João, o mais ponderado e sensato. Contudo, era em Luís, o sonhador do grupo, que encontrava maior calmaria. Entendiam-se muito bem. Quase não necessitavam de articular palavras para se adivinharem.
Os olhos brilhantes de Luís transmitiam-lhe segurança, uma paz nova.
Inconscientemente começou a fazer comparações e, com o decorrer do tempo, o casamento com Gonçalo parecia-lhe uma realidade da qual não queria ser membro.
A liberdade chamava-a e esta não se encontrava no cumprimento de tradições e promessas impostas.
(continua)

O coração pode ser...



 - Meigo;
- Terno;
- Maldoso;
- Maroto;
- Doce...

Enfim, temos uma mania generalizada de sobrecarregar o principal orgão do sistema circulatório com todas as emoções.

Que tal deslocarmos sentimentos para outros orgãos?

Por exemplo, já dizemos que fulano tem maus fígados.

Sabem de mais algum orgãozito com sentires humanos???

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Negro Profundo ( 13 )

Nada notando de estranho, apenas o habitual movimento que antecede a preparação da refeição, Samara dirige-se ao seu canto de estudo.
Uma mesa improvisada serve-lhe de escrivaninha. Acende a lamparina e prepara-se para fazer os deveres.
Sente uma presença aproximar-se. Engana-se, são duas: a de seu pai e a de Gonçalo, o noivo a quem estava prometida.
O coração acelera-se. O pai adianta-se e pede-lhe que se  dirija à zona de convívio.
Samara ajeita os cabelos encaracolados e escondendo a nervoseira veste um porte seguro, quase altivo.
Gonçalo, ao vê-la aproximar-se, fica arrebatado. Conhecia Samara desde criança, por várias ocasiões tinham estado juntos. Esta menina-mulher em que se transformara seduzia-o. Quando chegara a altura de escolher companheira para a vida não hesitara, imaginando-se únicamente com Samara.
Após os cumprimentos iniciais o pai pede-lhe explicações.
Samara, calmamente, mostra a sua posição, declarando-se demasiado nova para casar. Nada tendo contra Gonçalo, pelo contrário, achando-o um rapaz atraente e bem formado, gostava de continuar a estudar e deixar as ideias de casamento para mais tarde.
Sem interferir no diálogo dos jovens, Manolo segue atentamente a conversa.
O 'noivo rejeitado' entende as razões da menina.
Propõe um acordo. Visto ela ter apenas catorze anos, contra os dezasseis dele, adiariam dois anos, tempo em que haveria espaço para se conhecerem melhor e concretizarem o que se propunham.
À falta de melhor, Samara concorda com o diferimento.
Teria o aliado 'Tempo' como conselheiro.
Logo se veria.
(continua)

P.S. Peço desculpa às amigas(os) pela demora na publicação de novos capítulos desta 'novela' sem classificação. As tramas da realidade podem ser mais enleadas do que as  ficcionadas. De qualquer das formas, tenho como característica 'acabar obra iniciada'.
Nada prometo, vamos ver, como tão bem pensa Samara...

Há dias...


Há dias que parecem não ter fim.
Seja pela felicidade extâsica ou pelo medo paralisante.
Há dias para tudo.

Persegue-se o desejo, o sonho com intentos de plena realização.
Há dias em que tudo acontece do avesso.
Decidimos optar pela coragem e enfrentar a fúria da besta do quotidiano.

Há dias em que sucumbimos ao receio, de nós próprios, dos outros, de fantasmas.
Há dias de puro deleite onde a leveza do nosso ser é tal que nos sentimos alados e voamos.
Cerrando os olhos ou abrindo-os em policiamento defensor, há dias que o controlo escapa-se-nos.
Há dias em que o Mundo se veste de coloridos sorrisos que nos contagiam e iluminando-nos o rosto.
Há dias em que as lágrimas  desautorizadas  correm toldando-nos o olhar.
Há dias em que a coragem decide fazer greve e as atitudes balançam em fracos gestos. 
E hoje é um dia!

sábado, 17 de novembro de 2012

AFLORES

Por aqui há Flores (gostas do trocadilho, caro amigo?), muitas e lindas.
A Blogosfera consegue surpreender-me tanto.
E pela positiva. Muito pela positiva.

Desta feita o meu querido amigo Aflores , do amoroso Blogue http://ailaifeblog.blogspot.pt/ , presenteou-me com um delicioso gelado na Sincelo (estou mortinha por conhecer) em vitude de ter encabeçado o Top de comentadores do ano.
Parece-me que já cá cantam dois, mas isso é outra história.


Corações combinam muito bem comigo, singela Pérola, em formação.
Nem tenho palavras para expressar o meu agradecimento a tamanha honra.
Só posso dizer que moras no meu coração (real, não virtual), amigo Alberto!
Obrigado!

Para ti:
 Ofereço-te Flores que tão bem combinam com o teu nome:


E mais Flores:


Cuida muito bem desse  coraçãozinho.
É especial!

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Família de Sentimentos!


Habita em mim uma família de sentimentos.
Com a alegria deponho armas e sorrio.
Na visita da tristeza o brilho de meu olhar se embacia.
Arrependimento vem pela mão da raiva que me enlouquecem.
Desassossego vem com a injustiça que me revolta.
Choro na sensibilidade beslicada.
Apaixono-me ingenuamente, perdidamente, sem limites.
Crédula, tenho a ingenuidade por amiga.
A razão reclama atenção, porém prefiro atender o coração.
Entidades várias que me confundem.
São todas  minhas parentes, fluem no meu sangue.
Origem de dúvidas, viver incerto.
Chovem eventualidades e esta família apresenta-me novas perceções.
A minha vida se enche de emoções.
Transformo-me em amálgama de palavras e sentires.
Não me interessa o que pensem desta minha repleta cabeça.
Com ilusões e familiares temerosos, que importa se não conseguir?
Podem troçar, zombar de mim.
Só quero saber quem sou e prosseguir...recomeçando.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A cair em...Tentação

 

Provocação deliberada arranca-me de mim.

Tomas-me de assalto, atraindo-me dissimuladamente.

Surges espalhando aroma inebriante,
lavrando terra adormecida.


Meu cavaleiro resgatador!

Vem!

Desassossega-me em inquietudes quentes.

Toma-me e rasga caminhos ocultos,
prende-me em enredadas doçuras.

Agarra-me em apetecida junção.

Serve-me quereres tentadores embrulhados
no laço dos teus braços.

Ansiada tentação, desacomoda-me.

Incita-me em impulsos irrecusáveis.

OH! Meu adorável pedaço de vida.

Tenta-me!

Faz-me tua em unicidade doada,
nas asas sem rumo do desejo.


Frágil !


Na  delicadeza da complexidade reside a fragilidade.

Harmonia pouco estável,
mal seguro o equilibrio.

Dependências entrelaçadas,
condicionantes abraçadas.

Revelada existência do 'ser' em vislumbres débeis.
Subtil respiração em abraço vivo.
Escapa-se em em vaporosas nuvens do desconhecido.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Loucura







"Há sempre alguma loucura no amor.

Mas há sempre um pouco de razão na loucura."

 Friedrich Nietszche









A doidice e o desvario fazem parte da nossa vida.
São como contrapontos às regras e normas rigídas a que estamos sujeitos.
Por vezes os nossos desatinos até são julgados como doença incontornável.
Excetuando os casos clinicos, a insânia pode ser prova da nossa identidade.
Vivemos tempos instáveis e entendermo-nos enquanto pessoas pode ser de loucos.
Existirmos conscientes de nós, dos outros e ainda conseguirmos estar recetivos ao amor (em todas as suas formas) constitui prova desta alienação.
Se únicamente a razão nos guiasse a infelicidade seria a regra... talvez.
Por outro lado, as nossas demências contêm uma razão, por vezes, oculta ou desconhecida.
Cientes ou não, na prática, os nossos gestos, atitudes e comportamentos revelam sempre uma certa dose  de loucura.
É intrinseco à humanidade.
E...isto pode ser muito bom!

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Voamos ?



 
- Pedes-me um beijo.

(Sorrio)

- Imploras com o olhar.

(Brinco com o teu desejo)

- Insinuas-te no toque leve.

(Faço-me de distraída)

- Ecoas a tua súplica.

(Leio-te o desejo no corpo)

- Avizinhas-te de mim.

(Rendida, ofereço-te os lábios)

Na imobilidade harmoniosa provo-te.
Levantamos voo migrando rumo a terras docemente adivinhadas.
Desígnio apetecido em trocas sem tempo, agrado nosso.

O Tempo !


Cadência regular,
passada ritmada
fazem do tempo entidade previsível.

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Trilho a vida aprendendo, chorando, rindo, tropeçando em acontecimentos mais ou menos imaginados.
A surpresa, o inesperado fazem parte, desde o primeiro instante, de mim, da minha existência.
O factor mais evidente e óbvio, com o qual deveria ser aliada, é-me incómodo.

Conheço-o desde sempre.
Reconheço a sua presença invisível.
Contudo, é como um sismo, consegue abalar estruturas e destruir o inpensável.

Como companheiro inseparável de jornada ora leva avanço ora se atrasa.
Surge-me a desoras, tão inoportuno.
Bem sei que a questão reside em mim.
O tempo tem corpo na mensuração humana.
Já o sei.

Então porque me me incomoda, me surpreende de modo penoso?

Serão instantes sem sentido?

O tempo: bitola dispensável?


sábado, 10 de novembro de 2012

Sopro do Amor...

Sopram sussurros do vento.
Afagam-me em sons amorosos.
Brisa que me embrulha em névoas de ternura.

Sopro morno que entorpece os sentidos.
Embalada em carinhos da aragem, adormeço.

E os braços do amor enlaçam-me,
transportando-me a perfeito lugar.
Onde a minha essência se funde
em felizes pedaços de mim.

Sopro do Amor...ventania que me depura
em movimento ansiado.


Sopro do amor...respiração vital,
fôlego criador.
Bafo de vida.
Aroma crucial.

E eu sou eu e :
* mais o ar que me enche o corpo,
* a frescura da descoberta em cada pestanejo,
* as inebriantes cores que me estonteiam,
* o bálsamo das perfumadas pétalas que me redemoinham,
* os seres vivos que me dão sentido,
* a pertença delicada a tudo e a nada,
* o voo borboletar das emoções,
* o fluir dos afetos que me abraçam
em danças rodopiantes de puro deleite.

Sopro do amor...em mim.

Fui eu;
Sou eu;
Serei eu.
Perdida e achada em salutar abandono.

Num contínuo...contigo...em inspiração simultânea.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Da Sociedade


A existência  individual, única, pessoal é, geralmente, subjugada pela sociedade.

Sendo cada indivíduo um ser social, natural nos parece a socialização do mesmo.

Contudo, as normas, as regras impostas e condicionantes adquiridas, quer pela educação quer por outras interações sociais, conduz cada pessoa a uma espécie de 'fantasma' de si próprio.

Não existem sujeitos isolados, na plenitude da sua identidade.

O homem/mulher é sempre asfixiado pelo Homem.


Gostemos, concordemos, ou não a realidade é que a história da humanidade se pode sumariar nesta 'guerra' entre os direitos e deveres individuais contra valores superiores, os da comunidade.

Sendo a humanidade composta por cada um dos seres humanos, estes só o são realizando-se em Sociedade...ou talvez não.


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Comer / Prazer


Parece que é mesmo assim: o que sabe bem, ou faz mal, ou é pecado ou engorda.
O prazer (sensual) tem no imaginário de (quase) todos nós uma excessividade que nunca se coaduna com a contenção e as boas maneiras.
Não se querendo tocar nos limites, não se imagina amantes regrados sem desvarios ou toques de loucura.
Assim como não se imaginam banquetes sem gorduras, açucares, álcool e outras coisas que sabem muito bem e fazem mal.
Banquetes saudáveis de legumes e frutas não são a regra, sejamos sinceros.
Por outro lado, acontecimentos e encontros onde não exista adrenalina malandra são eventos sem memória nem história.

Penso haver qualquer coisa de voraz e alimentício na forma como concebemos o prazer.

O desejo de alguém ou de alguma coisa tem de despertar água na boca e deve culminar na sensação de estar cheio e pleno.

Daí ser muito vulgar entre nós metáforas em que os prazeres da cama, da mesa e da própria vida se misturem e confundem.

Comer ou beber de mais ou de menos ou ter sexo por excesso ou defeito aparece sempre como sinal de uma falta ou de uma compensação que indicia mal estar e desconforto.

Cada época e cada cultura trata o assunto de acordo com as condicionantes inerentes e duma forma mais ou menos complicada.

A intrincada relação entre o prazer e a comida parece-me demasiado evidente.


Não quero ser o último a comer-te

"Não quero ser o último a comer-te.
Se em tempo não ousei, agora é tarde.
Nem sopra a flama antiga nem beber-te
aplacaria sede que não arde

em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde

a esperar que limpasses toda a gala
que por teu corpo e alma ainda resvala,
e chegasses, intata, renascida,

para travar comigo a luta extrema
que fizesse de toda a nossa vida
um chamejante, universal poema.!"

Carlos Drummond De Andrade 

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Pensamento viajante...

Quero viajar!
Abandonar morada e perder-me na desordem mundana.

Preciso de desacomodação!
Renunciar certezas e partir em aventura.

Careço de descoberta!
Seguir o 'não vou por aí' do poeta.

Procuro novos trilhos!
Necessito de alternativas de fins desconhecidos.

Desejo mudança.
Trocar-me, despojar-me, despir-me, abandonar-me, perder-me, doar-me ou quiça encontrar-me.

Urgente esta viagem, que pode ter lugar aqui, desencadeada pelo pensamento.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Feitiço



Das tuas palavras brotam magia.
Encantamento colorido em doces palavras.
Hipnotizada exponho-me à tua feitiçaria.
Desnudo-me de pesados preconceitos e acho-me mulher.
Como farol no breu tu és luz destinada.
Cega pela  percepção, olho-me olhando-te no clarão fulgente.
Imersa em  cintilantes áureas abarco a totalidade de mim.
Lanças-me um feitiço.
Abraço-o envolto em meiguice.
Somente me queres bem.
Feitiço de autenticidade e com ele me transformo únicamente no 'eu'.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Vezes sem Conta ?


É do senso comum a limitação do ser humano.
A fragilidade inerente ao Homem tropeça em nós  tantas vezes que até troçamos da mesma.
Por vezes a indiferença é a arma escolhida.
Principalmente nas primeiras décadas de vida optamos  (ou somos conduzidos a tal) por nos pensarmos de existência longa.
Tão vago o pensamento de finitude.
Há que aproveitar e as escolhas são imensas.
Vive-se em mar sem horizonte.
Com o caminhar inexorável do tempo, surgem as crises, mais ou menos densas, e a consciência enche-se de vacilações várias.

Seja como for,  qualquer que seja o local temporal onde nos encontramos nunca há lugar para repetições.
Um local, um gesto, uma palavra não se apagam e não possuem duas entidades iguais.
Até podem surgir segundas oportunidades, novas palavras, gestos reiterados, mas nunca serão iguais. Nunca!

Por isso é de valor incalculável cada micro segundo de nós.
Estar atento pode ser o segredo.
Façamos de cada som pronunciado como se fosse o único.
De cada gesto uma atitude fiel a nós próprios.
Que cada segundo conte porque somos como o 'Homem-Bomba', cheios de 'sorte' com oportunidade ímpar.
Todas as repetições que lhe seguirem não passarão de meros ecos. Imersos em diferentes condicionalismos que permitirão renovadas oportunidades, ou não.


domingo, 4 de novembro de 2012

? Refundação ?



Na minha ignorância lanço mão do Google e procuro o significado da tal palavra que não páro de ouvir.
Parece que 're-fundar' tem origem no fundo que se torna mais fundo ou profundo: aprofundar, afundar(?).
Ou então, em alternativa, significará tornar a criar, estabelecer algo, fundar novamente.

A palavra em apreço, 'refundação',  estará entre a ação de aprofundar ou afundar (neste caso o Estado) ou processo criador de voltar a gerar (inventar, originar, produzir), estabelecer algo de novo.

Não sei se ria se chore.

Se for um aprofundamento do que temos, vou ali cortar os pulsos, como já ouvi alguém dizer, à laia de desespero.
Ainda tenho de cair em buraco mais fundo?

Se for uma nova criação espero que o Criador seja perfeito ou estamos bem tramados.

De qualquer das formas, não gosto (do termo, do circo em torno dele, da forma como os politicos agem...).

P.S. Se puderem acrescentar algo ao assunto a Pérola agradece.
É que nem tenho pulsos para cortar.

Grito !

 
Não!
Não te vás!
Não me largues no teu cheiro, vazio de ti.
Não me prives da doçura dos teus lábios.
Não me abandones na baía gelada sem te ter como porto de abrigo.
Não me soltes a mão que imobiliza  sem o teu  toque.
Não pares de me olhar, norte de mim.
Não!
Não te vás!
Não desistas de inaudito amor, flor rara, insubstituível.
Não me desapropries do teu corpo, sustento imprescindivel.
Não!
Não te vás!
Não permitas que me perca em insustentável existência.
Não me ofereças  indiferença embrulhada em cortesia.
Não me recuses carinhos ansiados em gestos adivinhados.
Não!
Não te vás!
Não me tortures no silêncio, mergulho sufocante.
Não te afastes, levando-te.
Não me obrigues a calcorrear esta agonia que é a vida sem Ti.
Não!
Não te vás!

sábado, 3 de novembro de 2012

Frágil . . . Eu !

Dissipo-me em névoas de dúvida.
Incertezas constantes me elevam
na bruma da consciência.
Balançando no sopro do vento de outrém.

Sempre os outros e a sua firmeza!

Eu desfaço-me em transparências imateriais,
delicadas substâncias que pairam.

Complicação aparente em voo calmo.

Protegida no abraço da neblina,
alada vontade impele-me.
Abandono-me em aventura involuntária
e atrevo-me no sorriso do 'ser'.

Sumindo-me em purificadas gotículas,
desvaneço-me no ar que me toma.
Ao esvair-me, em lenta desordem,
afundam-se ambiguidades, desaparecem inseguranças.

Vagueando, dispersa, na brisa
harmonizo-me ao acolher dúbios pedaços meus.

Fragilidade penetrante na minha volátil morada.

Voando, dispo frágil descrença,
vencendo-me ao olhar-me no rosto do céu.