De perto ou de longe, foge a normalidade por entre olhares e juízos de valor. Não te conheço e muito menos reconheço. Chego a pensar se é coisa minha ou se me ignoras só para me inquietares. Na ausência de certezas, deixo-me de procuras e quedo-me no encanto da dúvida.
Chovem lágrimas, cada uma escorrendo a sua emoção, molhando a pele de quem se embaraça em nós de afetos. Chovem lágrimas de amor, perdidas na dor, de quem quer e não tem. Chovem lágrimas de alegria, perdida no riso de se sentir, nas pontas dos dedos de alguém.
Faz tempo que o teu silêncio me chama, a sombra do teu desejo me despiu. Faz tempo que o teu beijo me falta, a ribeira do teu ser me entornou. Faz tempo, meu amor, que me suspiro e anseio . . .de ti.
me vou em
tempos sem história,
fico-me por lá
presa na liberdade
de tudo,
perdida em mim,
indo-me sem fim.
me fui em
pensares só meus,
soltando-me
em desassossegos,
inquietudes só minhas.
me sou em trilhos
com/sem escolhas
na deriva do mundo,
gotejando-me
no orvalho
de lágrimas suspensas,
intervalada em pensares,
na demanda do cristalino
de me ser.
Não sei quando a semente se perdeu na terra, o céu se derramou ou mesmo porque se despem as flores maduras. Vou secando no mesmo vento que varre jardins e colhe as flores grávidas de nova primavera. Inspiro os suspiros dos malmequeres como perfume de outras eras, de outros tempos, porque simplesmente não (me) sei. Já brotaram novos rebentos na terra acolchoada de folhas que se enlutam na despedida do verão. Não sei dos porquês das estações que se soltam de sinónimos e agarro-me à desfolha de pétalas por cair.
Sou flor dependurada, perdi caule, raíz até folhagem. Resto-me na cor da minha veste, na alegria do meu perfume. Sou flor amadurecida, plena de cor como só eu, flor dependurada. Nesse balanço da corda assobio ao vento, sussurro-lhe minhas vontades como nada me tolhesse. Ah! Vã Ilusão! Sou mera flor dependurada presa nas pinças da vida, imaginando o quanto sou livre, quando, em verdade, sou só eu, cercada de infinidades limitadas por fragilidades de flor.
Escorrega-me o feminino por entre camélias brancas, laços e sedas. Gosto-me de ser mulher, pintalgada de rosa, em delicadezas subtis encimadas por tiara de princesa. Pingo-me na ponta da pena, esborratando páginas nuas, ora lágrima ora riso. Basto-me na meada de me acontecer Mulher !
Gosto dos teus beijos crus como cereja madura. Doces como polpa sumarenta, vermelhos como teus lábios no descanso após visitarem os meus. Gosto dos teus beijos nus como fruta de época. Marotos na desfaçatez da colheita, carentes como perdição em vício do pior que há. Por eles me perco, por eles me encontro. Teus beijos, meu amor, são delícias com que sonho.