Com Música

No silêncio do quarto a quietude pedia companhia.
Premiste o play e a melodia invadiu o ar.
Por sinal, a música onde me perco, soltando o controle, restando apenas 'eu', de essência livre.
Sem palavras disseste tudo.
No refrão repetido, as notas musicais serviam de íman.
Aproximaste-te.
Suavemente pousaste os teus dedos nos meus ombros.
Estremeci de antecipação.
Lentamente deslizaste em passeio explorador.
Chamaste teu cada contorno, cada reentrância, cada saliência.
A minha pele eriçou-se em  puro deleite.
De olhos fechados sentia o teu encostar carinhoso.
As tuas mãos fizeram-se acompanhar por corpo que eu adivinhava.
Infringi a regra da imobilidade e encarei-te.
Colada na humidade cúmplice.
Percorri-te de Lés-a-Lés entre sussurros gemidos e desejos telepáticos.
Ensaiámos passos de bailado improvisado.
Na nudez da melodia inicial vesti-me de maestrina e regi orquestra onde eras o mestre, os instrumentos e a batuta.
Brotaram ritmos e versos perfeitos na harmonia da paixão ardente.
Tu e Eu!
Eu e Tu!
Em solfejos instintivos, com ternura animal, uma sinfonia foi composta.
A nossa!
Já sem notas soltas ou desafinações agitámo-nos em melodia amorosa.
Sentida, cantada e vibrada em corpos que se transcendiam.
Ousámos um 'Allegro'  a até um 'vibrato', mas foi na plenitude do momento sem horas que a música me enlouqueceu.
Abraçaste-me na batalha suada e foi então que voltei a escutar o silêncio do quarto com o nosso trautear como companhia.