Em Tara Road (filme mais antigo, de 2005, os anteriores são deste ano) a dor no feminino, o Amor (outra vez), ou a ausência dele.
Com esta semi-maratona cinéfila podem perguntar: '- Tu, não tens mais nada para fazer, Pérolazita?'
Bem, ter, ter, até tenho.
Quem não tem?
Há sempre a hipótese da escolha, não é?
Porém, tem dias, fases, momentos.
Dizem que é a vida.
Por muitos livros que leia, filmes que veja ou horas desperdiçadas em pensamentos labirínticos chego sempre a um beco onde sinto que as questões da humanidade são as mesmas:
agora,
na Idade Média
ou no Crescente Fértil.
Apesar das condicionantes sociais ou outras, o Homem sempre buscou (e continua em demanda d') a Felicidade.
Seja ela o que acontece quando estamos demasiado ocupados ou distraídos ou simplesmente agarrada com unhas e dentes pelos sensatos e sábios, a verdade é que o Amor está sempre lá, indispensável à Vida, crucial e enigmático como só ele sabe ( e pode ) ser.
Não tem conta as vezes de chão perdido, a explosão de pensamentos em meadas sem fio. Reconto, multiplico e acabo dividida. Por isso, não sei se te conte as vezes sem conta por onde tentei metamatizar-me, ser soma, número positvo, em potência de vezes desenhada em exponencial. Confusa, em enumeração trocada, já não sei da contagem, das vezes sem conta, em que me procurei, busquei de mim, e me incompleto no árido desfolhar de demandas, sentires por arrumar, onde me falta o alinhamento, a matemática de me ser, uma vez só.
- Porque te acizentas, pequena flor? Abre tuas pétalas, sorve o orvalho oferecido, pinta-te de cores mil, vai, liberta teu perfume por aqui, por aí, no acaso da vida. Olha a luz, a ternura que te acena, a paleta colorida dos afetos, que te aguardam em improvisadas aventuras, atreve-te, abusa do esplendor das vestes do ser único que és tu! - Despede-te do cinzento, pequena flor! Solta a sombra que te diminui, deixa ir, agiganta-te em cor tua, só tua.
Desenho o contorno do teu corpo no arrepio da minha pele, em insana vontade de te querer. Traço-te as curvas no compasso descentrado que sou eu, por planos sem eixos onde a origem és tu. Rabisco-te por entre beijos, em grafias ilegíveis, inventando alfabetos de desejo, acasos de momento. Já não sei se és pintura, texto ou esboço. Que (me) importa? Sou giz vivo na ponta do dedo, na língua viciada do teu sabor, em que te desenho, te descubro na humidade de caminhos loucos, riscos só nossos.
Por aqui, hoje, rendo-me à sabedoria, otimismo e aquele saber ser, saber estar, próprio dos mestres:
Samba da Bênção
Vinicius de Moraes
É melhor ser alegre que ser triste Alegria é a melhor coisa que existe É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza É preciso um bocado de tristeza É preciso um bocado de tristeza Senão, não se faz um samba não
Senão é como amar uma mulher só linda E daí? Uma mulher tem que ter Qualquer coisa além de beleza Qualquer coisa de triste Qualquer coisa que chora Qualquer coisa que sente saudade Um molejo de amor machucado Uma beleza que vem da tristeza De se saber mulher Feita apenas para amar Para sofrer pelo seu amor E pra ser só perdão
Fazer samba não é contar piada E quem faz samba assim não é de nada O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança E a tristeza tem sempre uma esperança A tristeza tem sempre uma esperança De um dia não ser mais triste não
Feito essa gente que anda por aí Brincando com a vida Cuidado, companheiro! A vida é pra valer E não se engane não, tem uma só Duas mesmo que é bom Ninguém vai me dizer que tem Sem provar muito bem provado Com certidão passada em cartório do céu E assinado embaixo: Deus E com firma reconhecida! A vida não é brincadeira, amigo A vida é arte do encontro Embora haja tanto desencontro pela vida Há sempre uma mulher à sua espera Com os olhos cheios de carinho E as mãos cheias de perdão Ponha um pouco de amor na sua vida Como no seu samba
Ponha um pouco de amor numa cadência E vai ver que ninguém no mundo vence A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia E se hoje ele é branco na poesia Se hoje ele é branco na poesia Ele é negro demais no coração
Eu, por exemplo, o capitão do mato Vinicius de Moraes Poeta e diplomata O branco mais preto do Brasil Na linha direta de Xangô, saravá! A bênção, Senhora A maior ialorixá da Bahia Terra de Caymmi e João Gilberto A bênção, Pixinguinha Tu que choraste na flauta Todas as minhas mágoas de amor A bênção, Sinhô, a benção, Cartola A bênção, Ismael Silva Sua bênção, Heitor dos Prazeres A bênção, Nelson Cavaquinho A bênção, Geraldo Pereira A bênção, meu bom Cyro Monteiro Você, sobrinho de Nonô A bênção, Noel, sua bênção, Ary A bênção, todos os grandes Sambistas do Brasil Branco, preto, mulato Lindo como a pele macia de Oxum A bênção, maestro Antonio Carlos Jobim Parceiro e amigo querido Que já viajaste tantas canções comigo E ainda há tantas por viajar A bênção, Carlinhos Lyra Parceiro cem por cento Você que une a ação ao sentimento E ao pensamento A bênção, a bênção, Baden Powell Amigo novo, parceiro novo Que fizeste este samba comigo A bênção, amigo A bênção, maestro Moacir Santos Não és um só, és tantos como O meu Brasil de todos os santos Inclusive meu São Sebastião Saravá! A bênção, que eu vou partir Eu vou ter que dizer adeus
Ponha um pouco de amor numa cadência E vai ver que ninguém no mundo vence A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia E se hoje ele é branco na poesia Se hoje ele é branco na poesia Ele é negro demais no coração