quinta-feira, 16 de julho de 2015

Para o teu fundo



Desço-me por degraus
que me chamam,
oceanizo-me na descida
do abismo que és tu.

Para o teu fundo
é meu tempero,
sal da minha vida,
exigida no desejo
de tuas águas.

Dissolvo-me em fogos molhados,
 toques sem pudor,
onde és mar meu
e eu,
tua naufraga,
presa no querer-te
aqui e agora.

Adoço-me na escala decrescente
onde te sei,
para o teu fundo
é minha fortuna.



sábado, 11 de julho de 2015

Corte e Costura



Entorno este desejo 
na ponta da agulha 
a olhar-me por entre dedos.

Alinhavo humidade de beijo
no fio com que teço
a costura de te querer.

Vejo-te no fundo da linha
em que me debato
por coser.

Nasço em cada fiada
na sutura do teu corpo
que me visita 
por entre cortes e costuras.



quarta-feira, 24 de junho de 2015

* De mim *



Semeio-me por terras estéreis,
embrulho-me na onda sem praia,
espraio-me em serranias sem mar,
desaguo-me em beco sem saída.

Procuro o avesso de mim,
em ventanias que me desnudam,
para voltar a perceber
que sou erro sem perdão,
escrita sem borracha,
em mundos de tempestade.

Decalco-me em dualidades
multiplicadas pela incerteza,
dúvidas tatuadas,
em verbos por acontecer
na solidão de existir.

Pérola



domingo, 21 de junho de 2015

D' Paz e d' Amor



"Certos graus de amor só são perceptíveis 
a partir da impossibilidade de se exercerem 
ou da ameaça de não poderem jamais vir à tona."
Artur de Távola




Bilhete

"Se tu me amas, ama-me baixinho

Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, 
e o amor mais breve ainda..."

Mário Quintana


quarta-feira, 17 de junho de 2015

Das malas, férias e afins . . .




Confesso gostar muito de férias.

Afinal, quem não gosta?

Contudo, tenho um problema, 
para não dizer uma doença, 
na hora de fazer as malas.

Que hei de levar?
E se chove?
E se preciso de bikini mesmo na neve?
E se houver uma ocasião que exija uma roupa mais produzida?
E se precisar de chinelos?
E se a carteira fica horrível com o calçado?
E se . . ., e se . . . ui, ui ! ! !
São imensas, as dúvidas.

Parece o Apocalipse.

Pois bem, tenho alguns truques:

* Tento focar-me na duração e no local da estadia.
*Escolho uma cor ou uma peça 'indispensável' e começo a selecionar o que poderá ser usado com o tal objeto forçado a dar o mote.
* Coloco os montes por secção em cima da cama
(casacos, tops, calças, interiores e por aí fora).

Os meus truques revelam-se sempre volumosos e incomportáveis (só para avisar).

* Faço uma segunda ronda e mais uma terceira.

Por último, toca a emalar.



Claro que nunca há espaço, as malas, sacos e necessaires são tão pequenos, mas tão minusculos, só visto.

Penso que alguém me compreenderá, não?

A bem ou a mal, lá acabo no destino.

Tem alturas que fico contente por ter exagerado 
pois tenho escolha e até empresto coisas minhas, 
porém o pior vem depois.

Aquando do regresso a casa, 
o desempacotar, 
para além da depressão pós férias, 
relembra-me como fui inconsciente e tão pouco prática.

Volto à trabalheira de (des)arrumar coisas a que não dei uso ( a maioria).


Desta vez, 
vou experimentar usar o esquema abaixo.

E contigo, como é na altura de fazer mala???



"Se todo o ano fosse de férias alegres, 
divertirmo-nos tornar-se-ia mais aborrecido do que trabalhar."
William Shakespeare


segunda-feira, 15 de junho de 2015

Da Diferença


Wodaabe man from Niger

Enchem-se nossos egos
em alheamento de diferenças,
soprando poeiras de outros mundos,
outros jeitos,
como se deuses pudessemos ser.

Gostam-se de semelhanças,
parecenças em tudo desiguais,
ditando leis de comparação,
assemelhações enviesadas,
como se as verdades estivessem ali.

Embrulham-se uniformidades,
padrões como caminhos a cumprir,
para sossego de muitos,
no calar de gritos
no direito de (querer) ser diferente.

Cansam-me tais conexões,
submissões convenientes,
quando é tão mais fácil
ser mais um(a).

Habito na contramão,
navego em desarmonias,
de diversidades universais,
sem permissão,
da diferença consumada.




sábado, 13 de junho de 2015

Tem um fio . . .



Tem um fio de vida
escapando-me por entre respirações,
no novelo de histórias por contar.

Tem um fio de cabelo,
tecendo-me a aparência em caracóis,
na espera do teu deslizar de dedos.

Tem um fio sem prumo,
equilibrando-me por breves intermitências,
no instante em que sonho seres meu.

Tem um fio de ligação,
agarrando-me em nós de desejo,
no querer ser teu destino.

Tem um fio com nós,
alisando-me em (em)baraços de amor,
por onde as palavras ganham sentido,

Tem um fio que não se vê,
que me acorrenta a ti.



quarta-feira, 10 de junho de 2015

. longe .



faço-me ao mar,
nesta noite de luar;

levo-me de rumo traçado,
sem desvios ou demoras;

quero-me bem perto de ti,
de boca na boca;


navego-me na cobiça
de te tocar;

encurto-me na distância
do teu corpo;


pois se há um oceano
que nos separa,
um tempo com pressa,
um desejo a queimar,
esse querer desmedido
a chamar por ti;

nessa lonjura de tudo,
assalto o pudor,
cedo a tentações
e . . . 
faço-me ao mar.



terça-feira, 9 de junho de 2015

DesejosTalvez




Tem esse chão sem fim,
o horizonte muito para
além de mim.

Tem esse desejo dorido,
o mundo que
se quer colorido.

Tem meu grito mudo,
minha dor controlada,
até um dia.

Não quero ter !

Basta-me ser !

Talvez o olhar turvo
de paixão,
quiçá o instante
do êxtase
em que existes em mim.

Talvez a loucura
sem fronteiras,
peias ou correntes,
de sorrir,
por entre marés felizes,
onde tu e eu 
nos consumimos.





sexta-feira, 5 de junho de 2015

Encruzilhadas



Há um sonho rebelde,
aquela viagem por iniciar,
uma vida à espera.

Adivinha-se o perfume
da flor não cheirada,
o passo acorrentado à terra,
a vontade que não passa
de desejo.

Provo da dúvida
destas encruzilhadas,
dos desassossegos
onde me assusto,
me perco,
e não (me) sei.


Há outras em mim,
medos por matar,
um não sei do quê
onde moram
fragmentos precisados
para me ser,
inteira.





terça-feira, 26 de maio de 2015

O Mundo és Tu !



O mundo és tu,
nele me sei
ao perder-me
por não saber de ti.

Levaste-me 
para parte incerta
ao soltares a resignação
do mal acorrentado
em teu respirar.

Partiste,
quebrando meu chão,
deixando-me só
na deriva de me tentar ser.

O mundo ainda és tu
por onde te procuro,
te busco,
em pescarias de outrora,
sem a paciência 
de me igualar a ti.

Na ausência
de teu farol,
resto-me na saudade,
desisto-me,
em renúncias
que nunca aprovarias.

Amo-te tanto!

Foste, 
és 
e serás 
o meu grande amor.
(Não possuo outra forma de amar.)

Aguardo o teu resgate,
o teu sinal,
por mim,
onde o mundo és tu.


Margarida Farinha





segunda-feira, 25 de maio de 2015

Provocadora



Teu jeito invasivo,
teu olhar disposto,
tua palavra semeada,
deixa-me sem limites.

És assim,
como ponto sem retorno,
um pretexto sem argumento,
uma interrogação sem pergunta.

Ai, quem me dera!
Saber ler tua mensagem,
decifrar teus códigos,
matar tuas fronteiras,
desatar teu nó,
em enleamentos só nossos
como se fora provocadora.
Ai!
Quem dera! 



Oferta de mar


Desembrulha-se o mar
por entre laços de maresia,
em papéis amarrotados
na humidade dos salpicos.

É o mundo que me chama,
em oferta de promessas,
com nova maré,
salgando-me de recomeços
por demais desejados.

Mera ilusão,
fantasia desvairada,
esta de me querer entregar,
na inteireza de mim.





segunda-feira, 18 de maio de 2015

Como orvalho



Aquieta-se a noite nos primeiros raios de sol.,
antigua-se o desejo de ontem
no (re)começo de outro.

Desdobro a ânsia de te ver acordado,
quedo-me como bicho
na espera de luz.

Os teus braços amornam-me a pele,
vestem-me como o orvalho da manhã
que adorna o lá fora.

Olho-te na fresquidão do regaço 
que aurora,
no colo oferecido por entre
palavras por dizer.

Escorro-me como gota matinal
nos jeitos de teu cabelo,
macio,
 como o desabrochar tenro 
de semente longe do fruto.

Faz-se o dia,
na poeira da noite,
como orvalho de prazer,
em madrugada por acontecer,
onde tu és meu.




domingo, 10 de maio de 2015

Descansada



Descanso no aperto de garganta
nesse nó que abraça,
na vontade de saltar 
a poça do tempo.

Repouso em tuas palavras,
verbo escorregadio,
mensagens sem garrafa.

Demoro-me na velocidade
de lentidões perdidas,
leito do que sonhei,
por entre mantas enroladas,
de rosto marcado
em descanso . . .



quinta-feira, 7 de maio de 2015

. . . banquete . . .



 . .. dou a mão à tarde
que se anoitece . . .

. . . acendem-se as luzes
da minha vontade . . .

. . . preparo um banquete
para quem me quer bem . . .

. . . dispo expectativas
e ponho o avental de mim . . .

. . . espero . . .



domingo, 3 de maio de 2015

É a vida !


Brotou a vida
sem porquês ou incertezas.

Veio no rio sem rumo,
galgou margens 
e disse que sim.

Viajou no tempo,
não olhou para trás
ao ritmo do coração.

Sulcou esperanças,
plantou lágrimas,
por entre vales,
mares e oceanos.

Ajeitou o olhar,
dobrou as lembranças,
abriu mão do sonho
e deixou-se ser.


quinta-feira, 30 de abril de 2015

Sem 'Nós'


Gosto do silêncio do Mundo,
onde entranço a solidão,
no medo de me olhar.

Gosto do desfiar de afetos,
onde a imaginação me sorri,
na fantasia de me ser.

Gosto do nó de cordas,
onde desato o meu grito,
no desejo de me ouvir.

Gosto do mar do amor.
onde sorvo as gotículas,
nas ondas de me sentir.




sábado, 25 de abril de 2015

Por acontecer . . .



Na loucura de imaginar teu beijo,
balanço na vontade de mais.

Acolho a vertigem do quase real,
sei-te neste equilíbrio de desejo comum,
perco o rumo 
em ânsias de ti.

Vem!
Não temas!

O Mundo, 
lá fora, 
não é pertença nossa.

Quero essa fusão
de almas,
de corpos,
de insuspeitáveis apetites,
só nossos.

Desfaleço no abismo 
de te saber,
na espera do teu beijo
que me apetece.




domingo, 19 de abril de 2015

Depois de ti . . .


Desdobro o cheiro ainda enlaçado pelo branco do lençol enrugado.

Que lhe importa?


A indiferença do seu poder cresce na impaciência da minha inalação.


O odor é tudo.


Percorre-me sem autorização, torna-me refém, prisioneira, ao sabor da minha entrega.


Nesta posse evaporada por entre dedos, sou-me no leito do ainda há pouco.


O cheiro não se alisa, mas continuo a desdobrá-lo . . .






sábado, 18 de abril de 2015

Rosa e coral



Floresço no rosa,
perco-me nas profundezas do coral,
sou assim,
menina de cabeça nas nuvens,
de fantasias recortados
em contornos renovados.

Perco-me nos finais,
pinto os recomeços,
de coral,
de rosa,
como rapariga de sempre.

Quero ser esse balão,
sorriso cheio
de contágios cor de rosa.

Apetece-me o coral,
o oceano de cor,
por onde me sonho
e sei ser feliz.




sexta-feira, 17 de abril de 2015

. . . teu olhar . . .



Derramaste teu olhar sobre mim,
viraste-me do avesso
viajando em contradições
que nem o tempo lembra.

Despiste meu corpo, 
minha mente,
minha alma,
com teus olhos,
à revelia das palavras.

Trocaste o curso do rio
por onde me sou,
desinquietaste-me vontades,
julgadas adormecidas,
surpreendeste-te em mim,
eu sei.

Vestiste o olhar 
que se me colou,
o qual não consigo despir
muito menos lavar,
em pele a chamar por ti.

Derramaste o teu olhar sobre mim,
quente,
em avassaladoras recordações
de hoje, 
quiçá,
de sempre.




terça-feira, 14 de abril de 2015

Confusa



Há dias em que os minutos se transformam em infância, sonho ou em surrealidade inesperada.
Dizem-me que o tempo, refletido na idade, ensina, é mestre, traz paciência, compreensão, quiçá sabedoria.

Eu não sei . . . desconfio.

Ele há dias estranhos, em que tudo parece ser possível de acontecer. O estranho toma conta do que nos cerca e, pouco a pouco, somos nós a ficarmos 'fora do normal'.

Tenho passado, últimamente, por instantes, dias, deste teor.

Confundem-me, o controle é coisa longíqua e de nada valem os meus pensamentos, as minhas decisões.

Os acontecimentos atropelam-se e quedo-me espetadora surpreendida da vida que não precisa de convite ou explicação.

A vida acontece, eu não entendo e talvez seja assim mesmo.

Há em mim uma procura, a tal demanda das verdades, das regras universais que me confortariam.

Na sua ausência, vivo na sobrevivência do que me deixam ser, do que me permito ou sei ser..., somente.

Não sei...mesmo, de verdade.




segunda-feira, 6 de abril de 2015

De mim . . . para mim.



Caminho nesse campo
por onde o tempo
me é sombra,
em perseguição doentia.

Demoro-me nesse cheiro
que é meu,
nessa melodia
onde me sou,
por esse trilho
que chama 
por mim.

Quisera eu
outro caminho,
outra via,
nua de tempo,
sem ontem
nem amanhã,
somente eu.

Rasgo calendários,
não uso relógio,
mas não sei do rumo,
qual o destino
por onde o tempo não passa.


P.S. Peço desculpa a todos os meus amigos blogosféricos que se mantém por aqui.
Tenho andado um pouco ausente, 
confesso que morro de saudades de vos visitar.
Espero, bem breve, a todos saudar.
Obrigado pelo vosso carinho!
Não sei que faria sem este 'era tudo muito bom' onde, 
por vezes,
 o menos bom também se faz de convidado.