terça-feira, 25 de agosto de 2015

beijo


O BEIJO (Paul Éluard)

"Ainda toda quente da roupa tirada
Fechas os olhos e moves-te
Como se move um canto que nasce
Vagamente mas em toda a parte

Perfumada e saborosa
Ultrapassas sem te perder
As fronteiras do teu corpo

Passaste por cima do tempo
Eis-te uma nova mulher
Revelada até ao infinito."


Quero esse beijo
sem tempo,
perdido,
por entre folhas do calendário,
de relógios parados.

Renasço na ânsia
da desordem
de teus lábios,
de tua boca,
onde o caos se organiza
e o abismo 
me tenta.

Quero esse beijo
multiplicado
vezes sem conta,
somado
a tantos outros,
em eternas intemporalidades.

Quero esse beijo
onde me despedaço
e remendo no fio 
da tua saliva.

Pérola



segunda-feira, 24 de agosto de 2015

sábado, 22 de agosto de 2015

flor e dependurada



Sou flor dependurada,
perdi caule, raíz
até folhagem.

Resto-me na cor
da minha veste,
na alegria do meu perfume.

Sou flor amadurecida,
plena de cor
como só eu,
flor dependurada.

Nesse balanço da corda
assobio ao vento,
sussurro-lhe minhas vontades
como nada me tolhesse.

Ah! 
Vã Ilusão!

Sou mera flor dependurada
presa nas pinças da vida,
imaginando o quanto sou livre,
quando,
em verdade,
sou só eu,
cercada de infinidades
limitadas por fragilidades
de flor.


sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Por entre silêncios



Deixa essa criança 
tomar seu tempo,
formar-se tomando peso,
e quando chegar sua hora . . .
pois que nasça.

Deixa esse parto acontecer,
bem de mansinho,
gravíssimo,
como quem desperta 
de ventre de ternura.

Deixa que as palavras jorrem,
a música ganhe identidade,
em ritmo prestíssimo,
como explosão de tudo.

Deixa-me ser essa lactante,
oferecer-te da minha música
nascida do silêncio 
de te querer.



Para os mais Curiosos: 
http://www.prof2000.pt/users/ed_musical/EDUCA%C3%87%C3%83O%20MUSICAL/5.%C2%BAANO/NIVEL_02/RITMO/5-Principal1periodonivel02-RITMO.htm


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

guerreiro



Trazes o gume da lâmina,
o sangue que não estanca 
nesses rios 
que atravessam teu corpo.

Tens no olhar o negrume
de gritos
e silêncios sem vida.

Persegues a cruzada, 
despida de ti,
marcada em tua alma
de guerreiro.

Estendes-me a tua mão
que me falam de outro ser,
calado em teu ventre,
em súplicas de amor.




sexta-feira, 7 de agosto de 2015

coisas do mar



Trazes coisas do mar,
palavras perfumadas na maresia
em voo de gaivota.

Tens nas mãos o mundo
que me entontece,
deixas-me à deriva
ao sabor do teu tempo,
da tua vontade,
moderadamente.

Já te disse
o quanto anseio a loucura?

Junta a essas coisas do mar
a imprudência sem limites,
a anarquia de outras terras,
outros cheiros,
desejos inconfessáveis.

Vem !
Carrega-te em pleno
e oferta-te (só) a mim.

Leva-me contigo
por entre essas coisas de mar . . .



quarta-feira, 5 de agosto de 2015

* eu *


Escorrega-me o feminino
por entre camélias brancas,
laços e sedas.

Gosto-me de ser mulher,
pintalgada de rosa,
em delicadezas subtis
encimadas por tiara de princesa.

Pingo-me na ponta da pena,
esborratando páginas nuas,
ora lágrima ora riso.

Basto-me na meada 
de me acontecer Mulher !


domingo, 2 de agosto de 2015

teus beijos




Gosto dos teus beijos crus
como cereja madura.

Doces como polpa sumarenta,
vermelhos como teus lábios
no descanso após
visitarem os meus.

Gosto dos teus beijos nus
como fruta de época.

Marotos na desfaçatez 
da colheita,
carentes como perdição
em vício do pior que há.

Por eles me perco,
por eles me encontro.
Teus beijos, meu amor,
são delícias com que sonho.


sexta-feira, 31 de julho de 2015

tem tempo(s)



Tem tempo este vagar manso,
a suavidade de um amor paciente,
na espera, 
sem horas, 
de ti.

Tem tempo este querer sem fundo,
a ternura de um desejo sem voz,
na delonga do teu trote.

Tem tempo esta esperança enfeitiçada,
a magia de um adormecimento confiante,
na entrega que se adivinha.

Tem tempo, faz tempo,
são calendários desfolhados,
nesta minha vida em suspenso.

Porque tardas?



quarta-feira, 29 de julho de 2015

em metades


De vez em quando, perco-me !

Racho-me em metades 
que se soltam
como pétalas de flor madura.


Perco-me, de quando em vez!

Devoro-me em fragmentos desgovernados,
pedaços meus,
em busca da inteireza de mim.





segunda-feira, 27 de julho de 2015

! Com Medo !


Adivinho água fresca
no ribeiro 
que tropeçou em mim.

Hesito na travessia,
as pedras estão soltas,
escorregadias,
a desafiarem-me
em chamamento ardiloso.

Há um caminho,
mais além,
a vereda que devo escolher.

Que faço?
Pois se meus pés se calçaram
no medo . . . de mim . . . do mundo.


sexta-feira, 24 de julho de 2015

quero



Quero amar-te nesse espaço
entre nossos corpos,
na imperfeição do mundo 
na fragilidade de acontecermos.

Quero ser-me em ti,
fundir-me no calor de impossibilidades,
deixar as explicações 
esquecidas no fundo mar
para,
tão só,
te amar.

Permite-me,
amor,
cobrir essa distância,
repleta de desnecessidades
com a minha pele inacabada,
em perfeita tentação.

Quero-te no tempo fugaz,
da geração onde respiramos,
onde me dói 
só de pensar em ti.



quinta-feira, 23 de julho de 2015

Em sonhos . . .


O sonho chama por mim
e eu vou . . .

Persigo o beijo por dar,
grito aos ventos
que te quero
como quem
traga a vida
com um só gole.

Recolho meus fragmentos
em busca de ti,
correndo no acerto da tua voz,
na plenitude do desejo.

O sonho me chama
e eu tenho de ir,
quero esse beijo demais . . .




quarta-feira, 22 de julho de 2015

Doçura de receita . . .



Adiciono à nata do teu corpo
o açucar do meu desejo,
incorporo-lhe uns frutos vermelhos,
como paixão em ferida,
e eis a minha bagunça preferida:
o doce de te amar!



sábado, 18 de julho de 2015

Amor meu



O vento fez-se ao mar
e nele embarquei como clandestina.
Deixo-me levar
na ondulação uivante
como sopro vital.

Sou mar,
sou vento,
já nem sei.

Aporto noutro hemisfério,
continente desconhecido,
por onde deslizo
na respiração de ti.
como fantasma.

Abraço-te o sono,
beijo-te a respiração,
revogo-me em tua respiração,
na poeira da quietude
do vento quebrado.



quinta-feira, 16 de julho de 2015

Para o teu fundo



Desço-me por degraus
que me chamam,
oceanizo-me na descida
do abismo que és tu.

Para o teu fundo
é meu tempero,
sal da minha vida,
exigida no desejo
de tuas águas.

Dissolvo-me em fogos molhados,
 toques sem pudor,
onde és mar meu
e eu,
tua naufraga,
presa no querer-te
aqui e agora.

Adoço-me na escala decrescente
onde te sei,
para o teu fundo
é minha fortuna.



sábado, 11 de julho de 2015

Corte e Costura



Entorno este desejo 
na ponta da agulha 
a olhar-me por entre dedos.

Alinhavo humidade de beijo
no fio com que teço
a costura de te querer.

Vejo-te no fundo da linha
em que me debato
por coser.

Nasço em cada fiada
na sutura do teu corpo
que me visita 
por entre cortes e costuras.



quarta-feira, 24 de junho de 2015

* De mim *



Semeio-me por terras estéreis,
embrulho-me na onda sem praia,
espraio-me em serranias sem mar,
desaguo-me em beco sem saída.

Procuro o avesso de mim,
em ventanias que me desnudam,
para voltar a perceber
que sou erro sem perdão,
escrita sem borracha,
em mundos de tempestade.

Decalco-me em dualidades
multiplicadas pela incerteza,
dúvidas tatuadas,
em verbos por acontecer
na solidão de existir.

Pérola



domingo, 21 de junho de 2015

D' Paz e d' Amor



"Certos graus de amor só são perceptíveis 
a partir da impossibilidade de se exercerem 
ou da ameaça de não poderem jamais vir à tona."
Artur de Távola




Bilhete

"Se tu me amas, ama-me baixinho

Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, 
e o amor mais breve ainda..."

Mário Quintana


quarta-feira, 17 de junho de 2015

Das malas, férias e afins . . .




Confesso gostar muito de férias.

Afinal, quem não gosta?

Contudo, tenho um problema, 
para não dizer uma doença, 
na hora de fazer as malas.

Que hei de levar?
E se chove?
E se preciso de bikini mesmo na neve?
E se houver uma ocasião que exija uma roupa mais produzida?
E se precisar de chinelos?
E se a carteira fica horrível com o calçado?
E se . . ., e se . . . ui, ui ! ! !
São imensas, as dúvidas.

Parece o Apocalipse.

Pois bem, tenho alguns truques:

* Tento focar-me na duração e no local da estadia.
*Escolho uma cor ou uma peça 'indispensável' e começo a selecionar o que poderá ser usado com o tal objeto forçado a dar o mote.
* Coloco os montes por secção em cima da cama
(casacos, tops, calças, interiores e por aí fora).

Os meus truques revelam-se sempre volumosos e incomportáveis (só para avisar).

* Faço uma segunda ronda e mais uma terceira.

Por último, toca a emalar.



Claro que nunca há espaço, as malas, sacos e necessaires são tão pequenos, mas tão minusculos, só visto.

Penso que alguém me compreenderá, não?

A bem ou a mal, lá acabo no destino.

Tem alturas que fico contente por ter exagerado 
pois tenho escolha e até empresto coisas minhas, 
porém o pior vem depois.

Aquando do regresso a casa, 
o desempacotar, 
para além da depressão pós férias, 
relembra-me como fui inconsciente e tão pouco prática.

Volto à trabalheira de (des)arrumar coisas a que não dei uso ( a maioria).


Desta vez, 
vou experimentar usar o esquema abaixo.

E contigo, como é na altura de fazer mala???



"Se todo o ano fosse de férias alegres, 
divertirmo-nos tornar-se-ia mais aborrecido do que trabalhar."
William Shakespeare


segunda-feira, 15 de junho de 2015

Da Diferença


Wodaabe man from Niger

Enchem-se nossos egos
em alheamento de diferenças,
soprando poeiras de outros mundos,
outros jeitos,
como se deuses pudessemos ser.

Gostam-se de semelhanças,
parecenças em tudo desiguais,
ditando leis de comparação,
assemelhações enviesadas,
como se as verdades estivessem ali.

Embrulham-se uniformidades,
padrões como caminhos a cumprir,
para sossego de muitos,
no calar de gritos
no direito de (querer) ser diferente.

Cansam-me tais conexões,
submissões convenientes,
quando é tão mais fácil
ser mais um(a).

Habito na contramão,
navego em desarmonias,
de diversidades universais,
sem permissão,
da diferença consumada.




sábado, 13 de junho de 2015

Tem um fio . . .



Tem um fio de vida
escapando-me por entre respirações,
no novelo de histórias por contar.

Tem um fio de cabelo,
tecendo-me a aparência em caracóis,
na espera do teu deslizar de dedos.

Tem um fio sem prumo,
equilibrando-me por breves intermitências,
no instante em que sonho seres meu.

Tem um fio de ligação,
agarrando-me em nós de desejo,
no querer ser teu destino.

Tem um fio com nós,
alisando-me em (em)baraços de amor,
por onde as palavras ganham sentido,

Tem um fio que não se vê,
que me acorrenta a ti.



quarta-feira, 10 de junho de 2015

. longe .



faço-me ao mar,
nesta noite de luar;

levo-me de rumo traçado,
sem desvios ou demoras;

quero-me bem perto de ti,
de boca na boca;


navego-me na cobiça
de te tocar;

encurto-me na distância
do teu corpo;


pois se há um oceano
que nos separa,
um tempo com pressa,
um desejo a queimar,
esse querer desmedido
a chamar por ti;

nessa lonjura de tudo,
assalto o pudor,
cedo a tentações
e . . . 
faço-me ao mar.



terça-feira, 9 de junho de 2015

DesejosTalvez




Tem esse chão sem fim,
o horizonte muito para
além de mim.

Tem esse desejo dorido,
o mundo que
se quer colorido.

Tem meu grito mudo,
minha dor controlada,
até um dia.

Não quero ter !

Basta-me ser !

Talvez o olhar turvo
de paixão,
quiçá o instante
do êxtase
em que existes em mim.

Talvez a loucura
sem fronteiras,
peias ou correntes,
de sorrir,
por entre marés felizes,
onde tu e eu 
nos consumimos.





sexta-feira, 5 de junho de 2015

Encruzilhadas



Há um sonho rebelde,
aquela viagem por iniciar,
uma vida à espera.

Adivinha-se o perfume
da flor não cheirada,
o passo acorrentado à terra,
a vontade que não passa
de desejo.

Provo da dúvida
destas encruzilhadas,
dos desassossegos
onde me assusto,
me perco,
e não (me) sei.


Há outras em mim,
medos por matar,
um não sei do quê
onde moram
fragmentos precisados
para me ser,
inteira.