quarta-feira, 2 de março de 2016

Flor como se fora jardim



Fui semeada em vaso partido
por onde minhas raízes 
se enlaçavam em vizinhas
de outras espécies, 
 sem pudores de semelhanças
ou ecos de
'-não podes ser'.

De chão largo fiz minha casa,
por cima da terra serpenteava
em aprendizagens próprias de flor.

Minha casa sem muros,
vedações ou cercas,
deixava-me florescer
onde distintos e vaidosos coloridos bailavam
na brisa do vento,
ou se achegavam na humidade
de chuvas e frios sem estação.

Era flor silvestre,
 livre,
sem riscos de podas
ou pétalas desfolhadas
em mãos sem tino
ou consciências simétricas.

Sob o azul do céu abrigava-me
de outros jardins,
longe de jarras ardilosas
ou jardineiros bem intencionados
por onde a beleza
era emoldurada
em embalsamentos
que não casavam comigo.

Na liberdade de me ser
ousava sentir-me jardim 
onde era apenas pequena flor
desabrochada em campo bravio.




terça-feira, 1 de março de 2016

Cru e Nu



Despe silêncios,
verdades e palavras ocas
como se o avesso te fosse pele.

Despoja-te de quem te disseram que eras,
de quem tu pensas que és,
de quem é suposto seres.

Livra-te do cheiro entranhado
de quereres, vontades
e sonhos que não te pertencem.

Tu És, simplesmente !

Cru e Nu no viés do tempo
que te altaneia com promessas vãs,
vestes usadas sem pudor
em inconsciência só tua.

Despe-te e Sê!


segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Partilha I

O Amor, Meu Amor
"Nosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.

Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.

E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.

E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.

E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.

Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.

Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.

Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.

E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.

E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,

lembrança de pétala sem chão onde tombar.
Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar."

Mia couto

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

(só) Tu


Tem beijo a vincar a alma,
marcando-a a fogo
como cicatriz que não sara.

Tem boca a saber a ti,
angustiando-me a espera
como eco que ressoa.


Tem vontade a embaciar 
o espelho de mim em ti
como o banho de pele
em que mergulho
quando te penso.

Tem esse beijo a chamar
o prenúncio de outros tantos
como suspiro derradeiro
dessa loucura que és tu.




sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Sou flor



Na preguiça morna daquele abril
soltaram-se sementes
por terra solta
como colheita prometida.

Fui flor ao acaso
em jardim de pai presente
com mãe ao sabor do vento.

Eis-me herdeira da avó margarida,
desabrochada no regato do agrião
naquela horta colorida,
uma flor única,
menina de viço inocente
pois se os cuidados eram tamanhos.

Daquelas sementes encontradas
na primavera última,
perdi-me em janeiro
rasguei mundos,
nasci 
e para sempre desassosseguei.







quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Tem um lugar . . .



Tem um lugar me esperando,
uma casa só minha,
um mar que me conhece.

Tem esse espaço
onde me sou,
me basto
e me gosto.

Tem um lugar me esperando,
eu sei.

Sinto-o no neste arrepio de pele,
no nó seco de garganta
por onde se perde a voz
silenciada em medos
só meus.

Tem um lugar à minha espera,
quiça, 
dentro de mim.



sábado, 6 de fevereiro de 2016

De Mim



Aconteci no grito,
do romper do ventre de alguém,
como suspiro indiferente do Tempo.

Inquietei-me por desassossegos meus,
incertezas e dúvidas,
por onde me perdi, 
por onde me fui sendo
como flor espalhando raízes
de pétalas por desabrochar.

Permiti-me provar o desejo,
a vontade despudorada,
de outras peles,
sentires de alma nua,
em demandas
que só eu sei.

Derramo-me no sonho
de outros paralelos e hemisférios
em apetites aflitos
de me avistar,
por entre adivinhações encantadas
no eco do pensamento.

Silencio-me neste querer sem medida,
no amor enterrado em mim,
com ganas sem trilho,
na contradição de me gostar.



domingo, 31 de janeiro de 2016

Sou música




Cruzo ares,
ventanias e tempestades que tais.

Sou navio sem âncora,
sinfonia de andamento só meu.

Não aporto em lugar algum,
levam-me as notas,
em melodia só minha,
por onde sou orquestra,
maestrina e instrumento.

Abram-me alas,
caminhos sem chão,
por onde me solto,
em voo,
como ave nos braços da vento
em que me sou música por inteiro.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Tempo de vida


Tem uma vida
no entroncar de árvores
deformadas ao sabor
do moribundo ontem,
no apressado desejo de hoje,
no apetite esfomeado do amanhã-

Tem uma vida
no tic-tac alheio
às pressas e desmandos de mim.

Tem uma vida
que me agarra,
esventra e consome
em olhar que me diz:
-És Minha !


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

- Faço 4 anos ! ! !




Será que me esqueci?
Padeço eu de algum mal de memória?

Hum ! Não me parece.

É apenas uma garganta inflamada e a preguiça a tentar-me.


Pois é !

O Blog fez 4 anos no dia 18 de janeiro no ano de 2016.

Confesso que me lembrei da ocasião várias vezes e do quanto a Blogosfera me é importante


O querido Aflores lembrou-se desta pérola em formação e veio à festa.
Perdoa-me amigo, mas o frio deixa-me semi-hibernada.

Para ti em especial e para todos os meus amigos partilho aqui um doce, 
um bolo que tão bem me sabe na companhia de todos vós. 


A mesa está posta, 
Venham!
Façam o favor de se sentarem.

Quero celebrar o 4º aniversário do 'eereatudomuitobom.blogspot.pt' contigo.

Bem Hajas!

Muito obrigado por me acompanhares neste caminho que se solta e mostra o tanto que as palavras, as fotografias e todo o género de partilha ainda têm para nos oferecer.

Saúde!




quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Divagações . . . em sonhos.


"Não importa o quanto às vezes seja difícil, 
o quanto às vezes eu me atrapalhe, 
o quanto às vezes eu seja a densa nuvem que esconde o meu próprio sol,
 quantas vezes seja preciso recomeçar: 
combinei comigo de não desistir de mim."


________Ana Jácomo



Sou assim,
a modos que um sonho de mim,
uma lembrança,
ou mera vontade de me ser.

Sou assim,
a modos que a minha melhor amiga,
a pior inimiga,
sabotando-me 
como só eu sei.

Sou assim,
a modos que uma menina
com ganas de princesa, 
perdida no tempo,
em diálogos internos,
confusos, 
persistentes,
esperançosos
em que me dou a mão,
sem desistir de mim.




quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

* ANO NOVO *




Mais um ano,
mais um virar de página
na enciclopédia da vida.


Que cada instante
seja motivo e causa
do recomeço de nós próprios.


Mais uma maré,
no oceano da impermanência,
onde ousamos saltar paralelos,
atravessar hemisférios
em busca tão só de nós,
de outros,
com o amor como arma,
a felicidade como alvo.


Atreve-te  a ser feliz hoje,
agora e no sempre,
para lá dos calendários !






quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

nascer . . . renovar



Embrulho-me no presente,
para ser desfeita no amanhã
por onde me renovo
em fitas vermelhas
com laços de esperança,
amor e vontade.

Assim me nasço
outra e outra vez,
neste vaivém entrelaçado
de passado rasgado,
presente despido
em futuro solto 
na laçada de querer.

Há um nascimento
à minha espera,
um recomeço que me aguarda,
a renovação que me  chama.


Feliz Natal,
Blogosfera ! ! !



terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Gulosa



Deixa-me ser gulosa,
lambuzar-me em ti
até o doce me enlouquecer.

Deixa-me provar
cada recanto teu,
passar a minha pele 
por tuas montanhas,
cumes e vales.

Deixa-me saborear,
de língua húmida,
os teus cheiros e sabores
pelo mundo do teu corpo 
sedutor e maroto.

Deixa-me o desejo
de te querer mais,
sempre mais,
em ganâncias gostosas,
com lambidela vorazes
como gulosa que sou.



quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Partilha musical


Apesar de portuguesa, o fado nunca me foi música próxima, confesso

Partilho 'O Melhor de Mim' da Marisa porque algo me tocou bem cá dentro.

Também eu sei que o melhor de mim está p'ra chegar . . . 
há um renascer constante onde a luz me seduz
e a tormenta não passa de trapolim
neste cair e levantar de me ser.

Espero que gostem !


Hoje a semente que torna na terra
E que se esconde no escuro que encerra
Amanha nascerá uma flor.
Ainda que a esperança da luz seja escassa
A chuva que molha e passa 
Vai trazer numa luta amor.
 
Também eu estou à espera da luz
Deixou-me aqui onde a sombra seduz.
Também eu estou à espera de mim
Algo me diz que a tormenta passará.
 
REFRÃO:
É preciso perder para depois se ganhar
E mesmo sem ver, acreditar.
É a vida que segue e não espera pela gente
Cada passo que demos em frente
Caminhando sem medo de errar.
Creio que a noite sempre se tornará dia
E o brilho que o sol irradia
Há-de sempre me iluminar.
 
Quebro as algemas neste meu lamento,
Se renasço a cada momento,
Meu destino na vida é maior.
 
Também eu vou em busca da luz
Saio daqui onde a sombra seduz.
Também eu estou à espera de mim
Algo me diz que a tormenta passará.
 
REFRÃO:
É preciso perder para depois se ganhar
E mesmo sem ver, acreditar.
É a vida que segue e não espera pela gente
Cada passo que demos em frente
Caminhando sem medo de errar.
Creio que a noite sempre se tornará dia
E o brilho que o sol irradia
Há-de sempre me iluminar.
 
Sei que o melhor de mim está pr'a chegar!
Sei que o melhor de mim está por chegar.
Sei que o melhor de mim está pr'a chegar."


terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Da Normalidade


De perto ou de longe,
foge a normalidade
por entre olhares
e juízos de valor.

Não te conheço
e muito menos reconheço.

Chego a pensar 
se é coisa minha
ou se me ignoras
só para me inquietares.

Na ausência de certezas,
deixo-me de procuras
e quedo-me no encanto da dúvida.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Chove


Chovem lágrimas,
cada uma 
escorrendo a sua emoção,
molhando a pele
de quem se embaraça
em nós de afetos.

Chovem lágrimas
de amor,
perdidas na dor,
de quem quer 
e não tem.

Chovem lágrimas
de alegria,
perdida no riso
de se sentir,
nas pontas dos dedos
de alguém.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Posso escolher !



E na lama mais nojenta,
no buraco mais fundo
do desespero que aceitamos . . . 

. . . Há sempre um charco
 onde lavar a pele,
uma escada por trepar.

Porque . . . afinal
tem-se este derradeiro e decisivo poder:
"- Eu escolho !"

*************

Podem vir outros,
dizerem-me que não, 
talvez até o negro tolde os meus olhos,
tenha vontade de sumir 
ou
simplesmente desaparecer.

Mas, que interessa ?

Está tudo em mim 
e só em mim,
a ninguém mais devo culpar . . .

 . . . porque eu posso escolher !




sábado, 5 de dezembro de 2015

Inapropriado



Povoas o meu sonho,
no desejo impudico que não me larga.

És tentação, 
pecado com perdão,
por onde me desonesto
em apetites por saciar.

Fizeste morada em mim
no atrevimento dos teus silêncios,
nas entrelinhas do teu dizer
e . . .
 . . . eu . . .
deixei.

Agora,
aguardo-te com ganas 
de animal esfaimado,
predadora paciente
do banquete 
de nós,
por onde me quero consumir
ao te engolir inteiro.


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Desassossegos meus



Busco lá fora,
onde só o eco me responde,
desespero no silêncio
de tanto querer.

Algo me sussurra,
me aconselha a aquietação
deste desassossego 
de não me amar.

Solto fragilidades minhas,
simplifico-me em emoções 
de me ser, 
como fantasia real.

Parece guerra perdida,
luta sem tréguas,
pois a busca não  cessa
e,
 muito menos,
a tranquilidade vem.



domingo, 29 de novembro de 2015

Trilhando



Piso as fendas deste chão estéril,
procuro as estrelas da ponta do teu indicador,
a vida adivinhada nas tuas palavras
ou no deserto delas.

Vinco-me nas rugas do tempo,
alheia à vastidão de outros céus,
trilhos húmidos por onde te encontras.

Cicatrizo-me neste vão de bainha descosida,
querendo a água fresca que se descortina,
 mais ali,
como prémio desta míngua.

Esgueiro-me em dobras tuas,
sinto-te o fôlego,
a frescura dos teus lagos,
e sei da minha chegada.



quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Alucinando


Ser Mulher também é ser Deusa.


Navegar com ventos contrários,
ser naufraga em areia salgada
e,
ainda assim,
dar a mão sem género
na essência nua.

Partilhar tesouros de nada,
olhar os mares revoltosos,
sorrir às tormentas,
enfrentar esse mundo
que ruge e se enfurece
e,
ainda assim,
ser Deusa Mulher
porque sim.




quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Faz Tempo . . .


Faz tempo
que o teu silêncio me chama,
a sombra do teu desejo me despiu.

Faz tempo
que o teu beijo me falta,
a ribeira do teu ser me entornou.


Faz tempo,
meu amor,
que me suspiro e anseio . . .de ti.


domingo, 1 de novembro de 2015

Como sobreviver sem PC ? ? ?



Quis o destino, o Universo ou simplesmente o acaso que o meu portátil se avariasse.
E agora ? ? ?
Como sobreviver . . .

Por um lado, 
venho justificar a minha ausência na Blogosfera
e, por outro,
manifestar as enormes saudades 
(sim, saudades, bem à portuguesa)
de te visitar,
de teclar palavras que ecoam e sempre encontram respostas
e muito carinho.

Por agora, aguardo que que o meu computadorzinho se recupere depressa.

Voltarei depresssinha, assim o espero.

Beijinhos !!!