Fui semeada em vaso partido
por onde minhas raízes
se enlaçavam em vizinhas
de outras espécies,
sem pudores de semelhanças
ou ecos de
'-não podes ser'.
De chão largo fiz minha casa,
por cima da terra serpenteava
em aprendizagens próprias de flor.
Minha casa sem muros,
vedações ou cercas,
deixava-me florescer
onde distintos e vaidosos coloridos bailavam
na brisa do vento,
ou se achegavam na humidade
de chuvas e frios sem estação.
Era flor silvestre,
livre,
sem riscos de podas
ou pétalas desfolhadas
em mãos sem tino
ou consciências simétricas.
Sob o azul do céu abrigava-me
de outros jardins,
longe de jarras ardilosas
ou jardineiros bem intencionados
por onde a beleza
era emoldurada
em embalsamentos
que não casavam comigo.
Na liberdade de me ser
ousava sentir-me jardim
onde era apenas pequena flor
desabrochada em campo bravio.