domingo, 16 de outubro de 2016

com pérolas


Só porque sabes
do meu gosto 
por pérolas,
não me podes 
aprisionar nelas,
fazer-me refém
das tuas fantasias,
de teus desvarios,
das tuas vontades
mais secretas.
Pois, 
não podes!
Mas, eu deixo!
Prende-me,
ata-me...
... com pérolas.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Cristalizada

Percorro cada instante,
agarro o momento
de cada urgência minha,
como se fora eternidade,
em premente necessidade
da tua quietude,
do teu afago,
de ti.

Trilho cada miragem,
revolvo o olhar
em cada profundidade minha
como se fora caminho,
em inevitável iminência
da tua margem,
da tua proximidade
da tua orla.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

da tentação


"A única maneira de se livrar de uma tentação é ceder a ela!"

(tradução literal)

Oscar Wilde


Alguém me fala da tentação,
eu não entendo.

Fico-me no instante,
perco-me no olhar,
em cegueira supérflua.

Sobejo-me em 
desenfreados pensares,
esqueço-me de respirar.

Livro-me dela, ao ceder?
Resisto-lhe?
Ou abro a caixa de bombons
e,
simplesmente,
provo o manjar,
em tentação?!



"Posso resistir a tudo, menos à tentação."

Oscar Wilde


domingo, 9 de outubro de 2016

sem palavras



São palavras os teus beijos,
com que me escreves,
 onde me conto.

Histórias pontuadas
em plenitudes exclamadas,
reticentes ou sem ponto final.

As interrogações fazem parte
da  ortografia que te é peculiar,
usa-las na ponta dos dedos,
de mãos cheias.

Riscas-me o ser
por entre traços
que emergem intimidades,
escondidas,
segredos desconhecidos,
em transcendências do mais além,
profundidades
que desejo.

A tua caligrafia sabe de mim,
em letras inscritas 
com o teu corpo,
nas cartas sem selo,
no teu querer manuscrito.

São livros os teus lábios,
com que me romanceias,
onde me folheio.

Pérola


terça-feira, 4 de outubro de 2016

presa



São laços de veludo
que me prendem,
vermelho escarlate
ou púrpura divino,
não o sei.

Limitam o vento,
e a chuva 
que cantam
lá fora,
onde não chego.

Quero lançar
minhas pétalas
ao espaço,
em vácuo
que me será casa,
onde me preencho 
e serei completa.

São correntes
enlaçadas,
ferrugem amaciada no tempo,
ilusão da suavidade
de cadeado por  abrir.

Estou presa em mim, 
algema em veia
a passar-me no coração.

Pérola


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

humanidades em questão


Porque sangra alguém
por decisão de outro?

Porque não dás a mão
a quem a ti suplica?

Porque a guerra 
se tornou regra?

Porque a indiferença
faz mais estragos 
do que a diferença?

Porque há tanta alma
sem corpo
e corpos sem almas?

Porque sou assim?

Porque a voz do olhar
não é suave e meiga?

Porque não escolhemos
o amor?



sábado, 1 de outubro de 2016

... quero ...


Quero traduzir-te
sem idioma.

Quero legendar-te
sem palavras.

Quero decifrar-te
sem pudor.

Quero adivinhar-te
sem noção.

Quero descobrir-te
sem roupa.

Quero ler-te
sem fôlego.



quinta-feira, 29 de setembro de 2016

?... ! ; " : " .



* Gastam-se as palavras?

* Desbotam as interrogações quando lavadas em exclamações?

* Desaparece o ponto final na viragem do parágrafo?

* Pode o silêncio falar mais do que qualquer verbalização, imagem ou escrita?

* Vive-se na paragem das vírgulas da vida?

* Escorremo-nos no corpo das reticências?

* São as aspas sombra ou luz?

* Tendemos para o equilíbrio quando somos o ponto e a vírgula?

* Explicações são precisas em pontos encavalitados?

* Não sei, ponto.



quarta-feira, 28 de setembro de 2016

mulher


Mulher, senhora de si,
rocha firmada em areias movediças,
dona de raízes,
caules 
e botões a desabrochar.

Dama, vestida de lady,
nudez frágil a quem sabe ver,
rainha de nadas, 
coisas algumas,
por acontecer.

Princesa, sem príncipe,
contradição por legendar,
espera inquieta, 
desassossegada, 
no quê, 
porquê e porque não.

Mulher, insana,
carência florida em pétalas já desfolhadas,
leve no excesso de se ser,
de se querer ser,
em sonho de outro.

domingo, 25 de setembro de 2016

beach, please



Faço ninho,
em areia beijada pelo mar,
com fragilidades
recolhidas por ali.

São desejos entrançados,
sonhos em forma de teto,
 apetites espalhados pelo chão.

Monto tenda,
sem cimento ou tijolo,
em atrevimentos suspirados,
sem medo ou ideal,
como acampamento por agora.

É a tua praia
que me chama,
o salgado da tua pele 
por provar,
as linhas do teu corpo 
por escrever.




quinta-feira, 22 de setembro de 2016

sem mãos


Faço o mundo
com uma mão cheia de nada
e outra vazia de tudo.

Tenho na mão
um punhado de alguém,
flores de outras sementeiras,
pedaços de outras partes.

Floresço-me por entre dedos
nascidos por aí,
em raízes íntimas
da natureza em germinação.

Sou-me vida bravia,
perdendo-me e achando-me
na palma da mão,
minha ou, talvez, não.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

na lua


Esconde inventos,
mitos e precauções.

É mistério, 
segredo ferrolhado,
tão profundo,
nem tem chão.

Segreda possibilidade,
demora e horizonte.

Derrama audácia
como se atrevimento fosse
cautela.

Envolve o meu ser 
em neblina que ninguém sopra.



terça-feira, 20 de setembro de 2016

permitir-se


Não sei se ouse, não.
Atrevo-me e depois vem de lá
o dedo apontado, o juízo
sem contar com a culpa.


No verbo permitir habita
a coragem, a audácia 
e o sorriso.

Há caminho aberto,
eventualidades
e aventuras anfitriãs.

Viver sem permitir-se
é como rio sem foz,
ave em gaiola,
mar sem maré,
sol sem dia.

Permito-me.

Há que permitir-se
sob pena do vazio
do aconchego,
 da acomodação,
de se ser por inteiro.

Dou-me permissão 
para permitir . . . ouso, pois claro.


segunda-feira, 19 de setembro de 2016

das pérolas



E porquê o fascínio das pérolas?- poderiam perguntar alguns.

Bem, para começar o meu nome de batismo tem a ver com elas:


Depois, a pérola é fruto duma irritação dum ser vivo, a ostra.
É interessante constatar como as coisas belas podem surgir de rejeições e obstáculos, não acham?

Por outro lado, quem não gosta de pérolas?
Sejam elas 'originais', de cultura ou mesmo de plástico.

Tornaram-se  um acessório indispensável nos pertences da maioria das pessoas.
Se observarem bem, de certeza que terão algo como a madrepérola ou mesmo pérolas bem perto de vocês.

Confesso que gosto muito delas e, de quando em vez, até me sinto uma delas.

Para além do mais, 
mulheres da blogosfera, 
na dúvida...usem (sempre) pérolas
ou não fossem elas apropriadas para toda e qualquer ocasião.




sexta-feira, 16 de setembro de 2016

como cascata


Como gota atrás de gota
assim se cascatam sonhos
de beijos por provar,
de pele por cheirar.

São despenhos de desejos,
vontades encadeadas,
em catadupas gananciosas,
de te querer,
como rio atordoado 
na deságua do prazer.

Como fiada de pingos,
assim sou eu,
correria,
cascata sem leito,
salto no desconhecido,
buscando teu mar.

Caprichos à sorte,
vertidos no apetite
de conhecer teu sabor.

Queda ousada,
de quem nada perde,
como cascata apaixonada.


quarta-feira, 24 de agosto de 2016

! espantos !


Quanta carícia por sentir,
quanto beijo por trocar,
quanto amor impossível!

Como é oca a regra,
o costume de tudo tutelar!

Como são tantos os arrepios por acontecer
e ingratas as vãs ilusões !


Como pode o teu corpo não conhecer o meu !

Vagueam cheiros teus por ares que não respiro,
sussurros e palavras doces por ouvir !

Sei-te de cor,
em imaginação só minha,
como música continuada,
onde tu és instrumento,
o ritmo da melodia,
e eu
o teu amor !



fagilidades



Silencioso o suspiro sem 'ai',
em delicadeza própria de flor,
como pegada de fada.

Frágil o olhar sem rogo,
em querer mais e mais,
como gelo em dia de sol.

Delicada a boca sem sustento,
em vontades esfaimadas,
como abismo sem fundo.

Terno o corpo sem mácula,
em convenções a cumprir,
como prisioneiro de si.

Afável a volúpia sem ti,
em sentir amorável,
como se fora real.


fagilidades



Silencioso o suspiro sem 'ai',
em delicadeza própria de flor,
como pegada de fada.

Frágil o olhar sem rogo,
em querer mais e mais,
como gelo em dia de sol.

Delicada a boca sem sustento,
em vontades esfaimadas,
como abismo sem fundo.

Terno o corpo sem mácula,
em convenções a cumprir,
como prisioneiro de si.

Afável a volúpia sem ti,
em sentir amorável,
como se fora real.


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Com todo o meu coração


Crua a rocha
em que piso
e faço caminho.

São céus e terras
por onde me eternizo
nesse amor
sem limite
que me consome 
e alimenta.

Rasgo no horizonte
um olhar faminto
de quem tem sede,
de quem tem fome.

Anseio desvairado,
este meu querer-te
de corpo,
alma e mente,
como seta certeira
de Cupido sem freio.

Cruzo serranias,
universos e invernias
só para te ver,
só para te beijar,
com todo o meu coração
por ti despojado.

Fria a sorte do
que me quer mal,
da sombra de trevas
proibida em mim.

Basta-me o fogo desenhado
nas cinzas da memória
por onde te és,
onde te procuro
e te amo,
com todo o meu coração.


sexta-feira, 19 de agosto de 2016

. . . chovo-me . . .


Fragmento-me no todo de mim,
por entre o assobio do vento,
nas asas do sonho.

Quimero-me na flor por nascer,
em semente espalhada por aí,
no acaso de acontecer.

Orvalho-me no coração descansado,
em ritmos que me ultrapassam.

Pequenizo-me no gotejar dos meus risos,
das minhas alegrias,
canseiras e maroteiras.

Chovo-me sem pensar, a dar em doida com tanta alternativa,
com tanto chão por pisar,
e ... eu,
sem saber.

Sou-me assim,
meio minha,
meio sem pertença,
errante e perdida,
no mimo do amor que procuro
para me bastar.




sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Fantasia




No rasgo do tempo
sopram saberes enrugados
ou ainda por acontecer.

São fases sem Lua,
apenas respostas com chave
de livros em branco.

É o mapa de se ser
como mar revolto
de vagas rebeldes
e marés em carrossel.

Longínquos e antigos conhecimentos
de barbas branqueadas em verões sucessivos,
pios eruditos de aves fantasiosas
navegam em ingénuas infâncias
do que está para lá da vida
com causas e efeitos por adivinhar.


domingo, 3 de julho de 2016

há caminho

Rasga-se um caminho 
por entre  vontades esfaimadas,
corre-se em rota de colisão
buscando a interseção 
em pontos de corpos vulcânicos,
fusão embrulhada na pele,
no toque que arrepia só de olhar.

Abre-se passagem por entre 
umbrais de outro mundo,
abraça-se o outro como se fosse nosso
desviando estranhos seculares
em busca da totalidade do ser,
amor sagrado em momentos
de entrega,
em que tu és meu e eu sou tua.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Sem medos





Não há medo que me assuste
nem tempo fantasiado 
de silêncios vazios.

Não há loucura que não viva
nem desejo apetitivo
de ausência por visitar.

Quero viver e morrer
em lagos de medos,
mergulhar nas profundidades
das suas loucuras.

Ser-me só eu,
acto e consequência,
pensamento e emoção,
sem medos,
na imprudência insana
de águas salgadas,
ares ventosos
por onde me vou.


terça-feira, 14 de junho de 2016

ao sol-pôr

Há um sol que se põe,
há um caminho que me aguarda,
há um barco que me chama.

Há praia perdida
que me diz para ir,
chamamento de luz
em tempos que se esgotam.

Há que meter pés ao caminho,
entrouxar dúvidas, certezas
e partir com coisanenhuma.

Há alguém que me espera,
em entardecer que me demora,
pois se a vida é fugaz,
breve no seu sopro
e as marés se impacientam.

Há que ir,
encontrar rasto dessa invocação,
perder-me e achar-me,
em terras reservadas
por onde me ouso,
em busca do sol que se põe!


quinta-feira, 2 de junho de 2016

Despes . . .


Despes a lonjura de outras vidas,
passados tatuados na pele
em emoções que não queres.

És corpo em muda,
resolvido em mudança
porque tem de ser.

Entregas as feridas em memorial,
na carícia das marcas que te fazem lembrar,
como recluso em final de pena.

Descamas-te de desamores,
raivas e ingratidões,
renascimento da tua essência
em advento só teu.

Despes roupagem em cor de rotina,
feitos e fatos que já não te servem
pois és homem novo, assim o queres.