quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Negro Profundo ( 16 )

Na actualidade, e com o romper do dia, as lembranças esvaneciam-se.
A dor da partida da mãe estrangulava-lhe a garganta. Aqueles últimos cinco anos tinham-na mudado. Conseguira estudar sempre com o apoio dos pais que a tinham adotado.
Estudava Medicina Dentária, concretização do sonho de criança.
Matilde enveredara pelas matérias da Biologia. João, gestor a finalizar o curso. Luís, que se tinha transformado no seu maior amigo e confidente, decidira ser médico de animais. Continuava a sonhar que iria salvar todos os seres vivos de maus tratos. O pequeno António, que se revelara um rapagão de ideias bem assentes, escolhera engenharia. Adora mecanismos, máquinas e desta forma saciava a sua curiosidade, estudando com prazer.
Matilde sentia-se bem apesar dos fantasmas da rejeição a assolarem de quando em vez.
A morte da mãe reavivava-lhe as assombrações.
A avó veio oferecer-lhe um chá quente. Samara, dormente da posição encaixada no corpo frio da mãe, desperta rápidamente.
Haviam chegado mais pessoas, o negro parecia a única cor existente.
Os homens trajavam integralmente o preto com o preto como adorno.
As mulheres escondiam-se nos seus lenços negros que lhes tapavam a cabeça descendo até à cintura.
Era o caso de Samara, respeitava os costumes e apresentava-se de negro profundo vestida.
O funeral seria dali a pouco.
Acariciando a gélida face da mãe, é depois desviada para o meio das outras mulheres.
O pai, Manolo, de sofrimento estampado no resto, recusa-se a olhá-la. Os seus irmãos solicitam-lhe atenção, de olhos ávidos.
Ainda vislumbra Gonçalo, já casado e com dois petizes pela mão.
Aurora, mulher experiente, avó amorosa convida-a a permanecer em silêncio para afastar distúrbios.
Samara cansada, tudo  cede. A dor experimentada não lhe ânimos para qualquer ação.
Apenas chora, lágrimas secas, dor lacinante.
No marasmo da insensibilidade, provocada pela tristeza, permite-se o embalo inconsciente  nas cerimónias costumeiras naquelas ocasiões.
(continua)

7 comentários:

Vic disse...

Ainda não li tudo para trás :)
Noite boa.

Edum@nes disse...

Negro e profundo
Com o romper do dia
Muito amor e alegria
Em todo o mundo!

No meu e no teu coração
E nos corações de toda a gente
Felicidade tristeza não
Que a morte permaneça distante!

Boa noite para você,
amiga Pérola,
um bjo
Eduao.

Ana C. Martins disse...

tenho de me actualizar na história.. escreves tão bem querida Pérola!

Devias escrever um livro com os teus contos!

beijinho amiga

lena disse...

EStou a gostar de ler e concordo com a Ana Martins devia escrever um livro.
Beijinhos grandes.

nos"entas!!!! ( e feliz) disse...

............tive que parar de lêr...
reconheço a parte de acariaciar a face gélida....felizmente não da minha querida mãe...e espero nao o terc de fazer tão cedo....mas já passei por isso...do meu pai....
realismo
bjo

Meu Velho Baú disse...

Mais um capítulo e os personagens vão-se identificando.
Admiro o culto da etnia cigana.
Que tal passares todos estes capítulos para um livro ?
Bjs :)))

Mona Lisa disse...

Não cedeu às tradições!

É uma rapariga de fibra.

Veremos o que se segue!

Beijos.