Querido Diário,
Com as previsões a apontarem para temperaturas a aquecerem os termómetros para além dos 40º resolvi procurar a frescura marítima.
De bikini já vestido, enfiei o vestido de alças, bem leve, e de fresquidão encerrada em recipiente apropriado, atrevi-me até à beira-mar.
O areal morno massajava os pés descalços, saudosos de tais mimos.
Procurei poiso ligeiramente inclinado, bem juntinho da zona de rebentação.
Sabes como gosto de sentir os salpicos das brincadeiras das ondas.
O dia mostrava-se luminoso e nada fazia prever as tais temperaturas abrasadoras que a meteorologia teimava em repetir nos locais informativos.
Entre visitas ao mar, com arrepios pelas gotículas salgadas que me enfeitavam ao refletirem a luminosidade solar, os passeios sem destino onde apanhava conchas e búzios que a maré me presenteava, o tempo decorria.
Num dos momentos de 'relax, lendo viciante autor... já sabes como sou quando me entusiasmo pela leitura...de difícil contenção, eis que começo a sentir ardor invulgar.
Um calor incendiário.
Procuro o protector, guardado na geladeira, e em forma de spray, refresco-me ao mesmo tempo que acarinho a minha pele.
Queimaduras são para evitar a todo o custo. Sei que concordas comigo.
Apesar do 'Pilates' que tanto tem contribuído para o meu bem estar físico, há certas zonas do meu corpo a que não consigo chegar com as minhas esforçadas mãos. Limitações.
Sondo em volta buscando alguém disposto a socorrer-me em tarefa simples.
A uns escassos metros olhei para o meu vizinho de toalha e território da orla, um rapaz pela minha faixa etária, mais ano menos mês ou vice -versa.
Não é meu forte adivinhar idades, já sabes.
Sem problemas pedi-lhe assistência nesta minha incapacidade de espalhar o spray por todos os centímetros do meu orgão maior.
Com um sorriso, levanta-se sem pressas.
Reparei na sua altura, deitados somos mais nivelados, não achas?
Para além disso, o corpo movimentava-se harmoniosamente, bem constituído, sem nada a apontar. Até do calção desportivo gostei.
Passei-lhe o spray. Ele reparou na sua temperatura fresquinha. Geralmente estão quentes, as pessoas têm-nos à mão. Não é o meu caso, como já to disse.
Com mãos duma suavidade indescritível começa a espalhar o liquido. Não sem antes me borrifar por inteiro o que me arrepiou. Afinal o produto estava gelado.
Ainda lhe tentei explicar que só não alcançava certas zonas...
Novo sorriso.
Indiferente às minhas indicações, passeou-se pelos meus ombros, costas, desceu nas costas. Empenhou-se nos braços e nem esqueceu as minhas mãos, afinal também têm pele.
Desconheço se a temperatura exterior me elevou a interior. Dos normais 37,5º comecei a sentir-me entrar em ebulição. Fiquei febril.
A sério! Não acreditas?
Um incêndio interior ateara-se e espalhava-se rapidamente a todo o meu ser. Inflamara-me.
Precisava de socorro. talvez dos bombeiros...
Incapaz de me mover, o 'meu' auxiliador compenetrava-se na total proteção da minha cútis.
Entretanto descera às coxas e zelozamente prosseguia, dando integral cumprimento ao meu banal pedido.
Sem informar, guardou o protector na fresquidão resguardada e sentou-se na ponta da minha toalha.
Olhando o azul da água perguntou-me se não tinha calor, porventura o queria acompanhar num mergulho.
Completamente incandescente só tinha uma resposta possível. Corremos lado a lado nos escassos metros que nos separavam do oceano.
Mergulhámos e agarrou-me pela cintura.
A febre não tinha descido. Penso que piorara.
Agarrei-lhe a mão e conduzindo-o até às toalhas, enfiei o vestido por cima do corpo ainda molhado e . . . trouxe-o para casa.
Meu amigo diário, que querias que fizesse?
Bem sei que todo o cuidado é pouco com estranhos.
Porém, nunca o senti como um intruso.
Os olhos demonstravam uma ternura nunca vista.
Li-lhe confiança.
Pois...desta vez para além das habituais pedrinhas e conchas trouxe um tesouro maior.
Faz-se tarde. Já estou com sono...depois conto-te mais.
A história encalorada não se ficou por aqui...
Um beijinho da amiga,
(♥‿♥)