A Patrícia aguarda o seguimento da sua história.
Apesar dos atrasos, não gosto de coisas inacabadas, pelo menos das narrações vividas na minha mente, aqui prosseguem as peripécias da mulher a quem os acontecimentos ultrapassam vontades e planos.
Patrícia imobilizou-se na surpresa e petrificou por momentos. A presença inesperada roubou-lhe palavras e ações. A amiga beslicou-lhe o braço e fê-la regressar a terra.
'- Hã?' - foi a única sílaba que lhe saiu da boca entreaberta.
'- Pode dar-me o prazer de conhecer o seu nome?' - insistiu o homem moreno.
'- Desculpe, estava distraída' - desculpou-se Patrícia, de forma atabalhoada.
'- Sou a Patrícia'.
Miguel pegou na mão de Patty e conduziu-a à pista de dança. A 'Salsa' convidava ao ondular de corpos insinuantes.
Ao princípio, retraída, Patrícia sentia os olhares curiosos e estupefactos das amigas de noitada.
'Quem diria!' - era o pensamento resumido de todas elas.
Porém, o sorriso contagiante do par inusitado transmitia-lhe confiança e à vontade.
Deixou-se seduzir pela música, mergulhou naquele mar azul dos olhos e a música tornou-se cúmplice de algo inexplicável.
As músicas sucediam-se bem como os ritmos e as sensações.
Miguel mostrara-se um dançarino meigo e muito atento. Um verdadeiro cavalheiro apesar da ousadia inicial.
Já cansados recolhem-se a uma mesa mal iluminada onde Miguel se desculpa pelo atrevimento. Justifica o atrevimento no impulso incontrolável que sentira ao olhá-la de longe.
'- Tu chamaste-me!'- brincava ele.
Patrícia perdera a racionalidade que lhe era peculiar. Emoções desconhecidas faziam-na vibrar e começava a duvidar das suas certezas.
Com o trabalho completamente esquecido, somente aquela presença desinibida e afável lhe prendia a atenção.
'Seria amor à primeira vista?' - Era pergunta na cabeça de ambos.
A atração era visível e quase palpável. O desejo subia de tom tornando-se impaciente.
Miguel brincava com o cabelo de Patrícia as conversas desfilavam sem tino. Como adolescentes, deixavam o prazer da companhia mútua crescer e no momento eram felizes.
Entretanto, as amigas de Patrícia resolveram continuar a sua volta pelos locais nocturnos já programados e despediram-se da amiga que se 'encontrava em boas mãos' conforme brincaram. Patty ainda mencionou o facto do acordo e o dever das acompanhar. Meros resquícios de consciência.
Estava claro que o mulherio aprovava o encontro inesperado e fazia questão que Patrícia se divertisse.
O homem do veleiro, pegou nas mãos e com uma seriedade desconhecida pergunta-lhe se ela gostaria de conhecer a sua pequena casa flutuante.
O olhar respondeu-lhe.
De mãos dadas caminharam em direção da madeira que cintilava no reflexo da Lua.
O mar, esse libertava o seu cheiro a algas, e baloiçava, suavemente, aguardando os amantes apaixonados que ainda não o sabiam.
( Fim )